Dialogar sobre a família contemporânea no Brasil pode parecer inicialmente uma questão muito simples e fácil de desenvolver, uma vez que temos alguma vivência no tema em pauta, todos nós nascemos ou crescemos ou integramos uma família. Entretanto, buscar compreender como se constitui essa unidade social nos dias atuais requer pensar em diferentes aspectos que contribuem para a sua configuração, evolução e transformação ao longo do tempo.

Para entender a família numa sociedade tão diversa e desigual como a brasileira, é necessário considerar algumas premissas básicas para esse entendimento.

Considerando a inserção social da família, é inevitável pensar que diferentes dimensões da sociedade influenciam diretamente na sua formação.

Veja algumas que sugerimos abaixo:

  • Como unidade social, as famílias se produzem (participando dos modos de produção e força de trabalho) e reproduzem (necessitando meios para sua sobrevivência e reposição do desgaste cotidiano) socialmente seguindo o caminhar da sociedade.
  • Família é processo histórico, mudando em consonância com a formação social brasileira, ou seja, o contexto histórico é determinante para a multiplicidade de nuances na composição das famílias.
  • A dimensão cultural é um eixo fundamental no processo de formação e organização das famílias.

São as referidas questões que abordaremos neste estudo. Seu objetivo de aprendizagem é refletir acerca das concepções de família, da família contemporânea e características atuais e sua importância para as ações de saúde da família. Para isso, apresentaremos os pressupostos básicos sobre as diferentes concepções de família, seu processo de construção histórica; também abordaremos a constituição da família contemporânea no Brasil, suas características e as desigualdades.

Reflexão:

O modelo de família que frequentemente pensamos se constitui como padrão, porque é a mais comum entre as formas de inter-relações familiais vigentes ou é um modelo, uma norma construída socialmente e, portanto, carrega em si todas as mazelas das relações político-sociais estabelecidas no cotidiano da sociedade brasileira. Pense sobre isto!

Construção histórico-social das concepções de família

Os modelos de família-padrão, vigente ainda nos dias de hoje, confrontam a transformação da sociedade em termos de organização social, de padrões de comportamento, de novos códigos morais.

A sociedade do século XXI abre-se a novas relações mais inclusivas, mais tolerantes, embora ainda conviva com padrões inaceitáveis de desigualdades.

Pensar em família brasileira na contemporaneidade impõe reconhecermos a multiplicidade de configurações familiares, a diversidade de origens étnico-culturais, e também a determinante força das relações de poder, sobretudo nos arranjos econômicos e políticos, que resultam em desigualdades sociais.

Considerando o aspecto histórico-social, é importante sabermos que os diferentes conceitos de família podem variar de acordo com a complexidade e os objetivos de seu uso. Passe o mouse no título e veja:

Deste modo, reiteramos a ideia de que não existe, histórica e antropologicamente, um modelo ou conceito padrão de organização familiar, não existe a família “regular”.

Pensar família de modo plural contribui para a possibilidade de uma construção democrática de família baseada na tolerância com as diferenças. Significa considerar as diferenças na sua face nobre, a diversidade, numa posição inclusiva, porém, contrapondo-se às diferenças ou desigualdades injustas, as iniquidades (NEDER, 2000).

 

Família na transição demográfica brasileira, características e desigualdades socioeconômicas

Para entendermos um pouco mais da família brasileira contemporânea, é importante buscarmos conhecer como se desenvolve a dita transição demográfica que se expressa na população em geral e a direta relação com a composição dos arranjos domiciliares ou grupos familiares. O Brasil tem experimentado nas últimas décadas importantes mudanças na configuração das famílias, tanto do ponto de vista da sua composição como de seu tamanho.

Um parâmetro bom para analisarmos as mudanças na configuração das famílias brasileiras é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Portanto, vamos exibir alguns dados que contemplam o perfil da família brasileira contemporânea.

Veja na sequência alguns dados:

Um aspecto importante de comentar diz respeito à distribuição dos arranjos familiares no que tange ao rendimento familiar per capita, em que é possível observar uma redução das unidades cujo rendimento não ultrapassa ½ salário mínimo. Isto pode indicar que estas unidades familiares vivem numa situação de vulnerabilidade em relação à sobrevivência e ao bem-estar de seus membros.

Clique e compare a situação no Nordeste e no Sudeste ; verifique se revela as desigualdades espaciais históricas existentes entre estas duas regiões.

As desigualdades de rendimento familiar, marca registrada da sociedade brasileira, se mostram ainda bastante evidentes através dos resultados da PNAD 2005, sobretudo quando se compara o rendimento médio daqueles que pertencem aos 40% mais pobres em relação ao valor auferido pelos 10% mais ricos da população. Enquanto os primeiros tinham rendimentos em torno de meio salário mínimo, os segundos recebiam 9,44 salários mínimos per capita, ou seja, os 10% mais ricos tinham um rendimento 19 vezes superior. Mesmo demonstrando uma queda em relação aos dados de 1995, quando essa relação era 23,3 vezes superior, ainda assim a diferença permanece abissal, resultando nas desigualdades sociais.

O Coeficiente de Gini* , medida de desigualdade de renda, caiu de 0,559, em 2004, para 0,552, em 2005. Este índice foi calculado para o rendimento mensal de todas as pessoas com rendimento acima de 10 anos de idade. O histórico destes resultados mostra que o Brasil pertence ao grupo de países no mundo onde a desigualdade de renda é uma das mais elevadas. Os Estados do Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba apresentaram os valores mais elevados junto com o Distrito Federal.

Coeficiente de Gini: O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ela consiste em um número entre 0 e 1, em que 0 corresponde à completa igualdade de renda (em que todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (quando uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm). http://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_Gini.

 

Veja abaixo como se apresentam:

O ciclo de vida familiar medido pela idade dos filhos ajuda a compreender a fase em que se encontra a família. As três fases – inicial, intermediária e final – têm necessidades específicas. A maior proporção de famílias brasileiras encontrava-se na etapa inicial do ciclo de vida, quando os filhos ainda são pequenos, as dissoluções conjugais mais difíceis de ocorrer e cujos responsáveis ou pessoas de referência são mais jovens. Em 2005, 44,6% das famílias tinham todos os filhos menores de 15 anos de idade, ou seja, estavam no início do ciclo de vida familiar. Tal percentual foi menos expressivo no Sudeste, reflexo de seu padrão demográfico diferenciado em relação às demais (BRASIL, 2006, p.153).

Com este estudo, esperamos propiciar a reflexão sobre concepções de família, a família contemporânea e características atuais e sua importância para as ações da equipe saúde da família. Você conseguiu chegar a esta reflexão? Atingiu os objetivos propostos?

Faça a autoavaliação a seguir e verifique seu aprendizado; caso não tenha um desempenho satisfatório, refaça seus estudos.

MEDIDAS DE FREQUÊNCIA DE DOENÇASMEDIDAS DE FREQUÊNCIA DE DOENÇAS MEDIDAS DE FREQUÊNCIA DE DOENÇAS