Módulo 8: Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher, do Neonato e à Família no Alojamento conjunto
Unidade 2: Alterações fisiológicas e psicológicas da mulher no pós-parto

Alterações fisiológicas da mulher no pós-parto
Alterações psicológicas da mulher no pós-parto

Alterações psicológicas da mulher no pós-parto

Como vimos em unidades anteriores, no período da gravidez e do parto, a mulher experimenta uma série de alterações fisiológicas, sejam elas de natureza física ou psicológica.

Terminada a gestação com o evento do parto, mais uma vez, a mulher é invadida por sentimentos ambíguos de alegria e medo, dor, cansaço, labilidade emocional em decorrência das alterações hormonais que se fazem presentes no momento do parto e no pós-parto imediato, bem como do novo papel social que lhe é atribuído – o de ser mãe.

O bebê agora já está em seus braços, e inicia-se uma nova fase do processo. Importantes alterações físicas e psicológicas ocorrem no organismo materno, mas agora assumem novas características. O bem-estar psicológico da mulher, decorrente de ocupar o centro de atenções durante a gestação e o parto, sofre, muitas vezes, no pós-parto, uma diminuição significativa, uma vez que ela deixa de ser o foco da atenção e este, agora, desloca-se para o bebê. Concomitante a isso, as modificações gerais e locais, os fenômenos puerperais que ocorrem no organismo materno, comandados por um verdadeiro bombardeio hormonal, já comentado anteriormente, vão determinar alterações psicológicas importantes no puerpério.

Tais alterações psicológicas são originadas de sentimentos conflituosos da mulher em relação a todo o contexto, de seus sentimentos e suas percepções em relação a ser mãe, ao bebê, ao companheiro, a si mesma e também como filha de sua própria mãe. Outros fatores relacionados às condições da gestação, ao parto, à situação social e familiar da mulher podem gerar sobrecarga e desencadear alterações.

A amamentação, fenômeno progressivo do puerpério, em alguns casos, suscita na mulher várias preocupações gerando medo e insegurança, tais como: Será que vou conseguir amamentar meu filho? Será que terei leite suficiente? E minhas mamas? Será que a amamentação afetará sua estética?

No campo da sexualidade, as alterações também são significativas, pois há necessidade de reorganização e redirecionamento do desejo sexual, levando-se em conta as exigências do bebê, as mudanças físicas decorrentes do parto e da amamentação (BRASIL, 2006).

Para alguns estudiosos, o puerpério é um período de risco psiquiátrico aumentado no ciclo de vida da mulher, necessitando de atenção especial para se intervir terapeuticamente, preventivamente e pedagogicamente com a puérpera no Alojamento conjunto para manter ou recuperar o bem-estar e prevenir dificuldades para si e seu filho. A intensidade das alterações psicológicas dependerá de fatores familiares, conjugais, sociais, culturais e da personalidade da mulher (MALDONADO, 1997, 2000; MACEDO, 2002; NEME, 2002). Tais alterações incluem a depressão pós-parto (DPP), que pode ser iniciada ou precipitada pelo parto e difere entre si principalmente pelo grau de severidade. Ela está dividida em tristeza ou melancolia pós-parto (baby blues), psicose pós-parto e depressão pós-parto (ROCHA, 1999).

Baby blues
Também conhecida como melancolia do pós-parto é a forma mais frequente de depressão e acomete cerca de 50 a 70% das puérperas. É considerada como um estado depressivo mais brando, transitório, que surge em geral no terceiro dia do pós-parto e tem duração aproximada de duas semanas. Tem como principais características: tristeza, fragilidade, irritabilidade, alterações do humor, choro fácil, fadiga, falta de confiança da mulher em si própria, dificuldade de concentração, sentimentos de incapacidade, insônia e ansiedade. Tem como fatores causais a grande variação nos níveis de hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) circulantes e uma alteração no metabolismo das catecolaminas, que causa alteração no humor, podendo contribuir para a instalação do quadro depressivo (RODHE, 1996). Estudos evidenciam que esse quadro é considerado normal e essencial para o alívio da ansiedade após o parto, apresentando-se de uma forma leve e de prognóstico benigno (ROCHA, 1999; RODHE, 1996; BRASIL, 2006).
Psicose Puerperal
É considerada como o mais grave e dramático transtorno psiquiátrico do pós-parto. Ocorre em cerca de um a dois partos a cada mil partos. Os sintomas surgem nos três primeiros meses pós-parto e são mais intensos e duradouros, com episódios psicóticos, necessitando de acompanhamento psicológico e internação hospitalar (RODHE, 1996).
Depressão pós-parto
É um episódio depressivo e não psicótico, que, muitas vezes, pode não ser identificado e pode até ser ignorado pelos profissionais da saúde por ter o início menos agressivo. De acordo com Rocha (1999), Lopez e Pedalini (1999) e Silva et al. (1998), tem uma alta incidência, afetando de 10% a 15% das mulheres em geral. Trata-se, portanto, de um quadro depressivo com uma alta incidência e que pode trazer sérias consequências, tanto para as mães como para as crianças. Caracteriza-se por apresentar os seguintes sintomas: humor disfórico, distúrbio do sono, modificação do apetite, fadiga, culpa excessiva e pensamentos suicidas. O tratamento deve ser psicológico e medicamentoso, pois os sintomas podem persistir por até um ano.

Em todas as situações mencionadas, o(a) enfermeiro(a) exerce papel relevante, especialmente no que se refere à identificação imediata dos sintomas e à agilidade do cuidado das intercorrências maternas, auxiliando na prevenção e na diminuição dos riscos para a saúde da mãe e do seu filho.

Palavra do Profissional
É imprescindível que você esteja atento aos sintomas que se configurem como mais graves e que ultrapassem as fronteiras da normalidade características do puerpério. Leve em conta a importância do acompanhamento no pós-parto imediato e puerpério, prestando o apoio necessário à mulher no seu processo de reorganização psíquica quanto ao vínculo com o seu bebê, seu companheiro e seus familiares, nas mudanças corporais e na retomada do planejamento familiar (BRASIL, 2006).

Neste estudo verificamos que as condutas baseadas somente nos aspectos físicos não são suficientes. Elas necessitam ser potencializadas, especialmente pela compreensão dos processos psicológicos que se fazem presentes no período puerperal. Assim, destacamos a importância do papel do(a) enfermeiro(a) no reconhecimento dessas alterações, como forma de diminuir os riscos para a saúde do binômio mãe e filho e garantir uma assistência de qualidade.