Módulo 9: Projeto Terapêutico Singular Na Clínica Da Atenção Psicossocial
Unidade 1: Projeto Terapêutico Singular como ordenador do cuidado na Rede de Atenção Psicossocial

Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Diagnóstico em Atenção Psicossocial: análise crítica de seu papel no projeto terapêutico

Diagnóstico em Atenção Psicossocial: análise crítica de seu papel no projeto terapêutico

Atualmente o cenário da Reforma Psiquiátrica no Brasil centra-se na expansão de diversos componentes da rede de serviços substitutivos, a exemplo da Rede de Atenção Psicossocial.

Nesse contexto, como medida governamental, prioriza-se o atendimento comunitário e o respeito aos direitos humanos do paciente (Lei Federal nº 10.216) e asseguram-se recursos financeiros que incentivam a saída de pacientes com longo tempo de internação dos hospícios para a família ou comunidade por meio da “Bolsa-Auxílio” (Lei Federal nº 10.708) (AMARANTE, 1996; LIBERATO, 2009).

Porém, é preciso que tenhamos clareza de que somente o redirecionamento dos recursos assistenciais não é suficiente para assegurar e amparar o doente na comunidade. Fazem-se necessários um processo de transformação no campo do saber, das práticas profissionais no interior dos hospitais e concomitante criação de novos modos de sociabilidade e produção de valor social (SILVA, 2005; MACHADO; COLVERO, 2003).

Observe a animação a seguir:

Em relação à política de formação, pesquisa e capacitação de recursos humanos em saúde mental no SUS, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002, p. 72) reconhece a necessidade de qualificar a discussão em torno das novas ações em saúde mental. É possível verificar, portanto, nesta política de formação, a preocupação com a capacitação dos profissionais que atuam no campo da saúde mental. É sabido que no debate científico e na produção de conhecimento o tema da saúde mental como parte da saúde pública está ausente na graduação e na pós-graduação. Faz-se necessário, portanto, ampliar as instâncias de capacitação para além das universidades, propondo um trabalho integral, intersetorial, em que haja “o diálogo do saber científico convencional com os saberes populares” a favor da interdisciplinariedade (TAVARES, 2005, p. 407).

Para Tavares, essa nova perspectiva assistencial interdisciplinar mobiliza não somente a esfera das relações sociais e econômicas, mas também as expressões emocionais, afetivas e biológicas, consideradas pela autora como um desafio para a prática profissional diante do desenvolvimento de ações psicossociais.

O Modo Psicossocial é uma nova forma de gerenciar a assistência em saúde mental, que utiliza novos parâmetros, rompendo com os saberes e as práticas até então instituídos. Segundo Silva (2005), essa modalidade terapêutica tem como objetivo principal aumentar as possibilidades de existência do doente mental na organização social, minimizando seu sofrimento psíquico. Há na literatura autores que acreditam que a atenção psicossocial abarca outros procedimentos, como mediar as trocas sociais do doente mental no sentido de aumentar sua contratualidade, favorecer um maior grau de gerenciamento de si próprio em busca de maior autonomia e tornar-se referência para garantir um vínculo de confiança e uma continuidade no atendimento (GOLDBERG, 1996; TYKANORI, 1996).

Contudo, Tavares (2005, p. 409) afirma que “a atuação da enfermagem no modo de atenção psicossocial ainda é incipiente e encontra-se em construção”. O que a autora aponta como resultado positivo tem sido o trabalho interdisciplinar, realizado nos novos dispositivos de atenção psicossocial. Verifica-se que “nesses serviços a contribuição da enfermagem é germinal, mesmo porque a novidade ainda não gerou acúmulo suficiente de experiências necessárias no campo da saúde mental brasileira” (TAVARES, 2005, p. 409).

Na literatura especializada, encontramos estudos que versam sobre a contribuição teórica psicossocial ao trabalho terapêutico em rede, ressaltando que as mudanças institucionais vêm ocorrendo a passos lentos. Constata-se que parece haver uma dicotomia entre a teoria e a prática nos serviços psicossociais. Vieira Filho e Nóbrega (2004, p. 378) comentam que os profissionais têm se deparado com

dificuldades nas interações interinstitucionais, na concretização da territorialização, nas teias de conflitos interpessoais, no clientelismo político, nas políticas de abandono da clientela dita “pobre”, no pouco planejamento local e distrital, entre outros.
Na conclusão desses estudos, os autores sugerem que, tanto no desempenho das práticas do profissional como nas políticas públicas, sejam tomadas medidas concretas no sentido de melhor qualificar os atendimentos em saúde mental. Apontam ainda a preocupação com a ampliação da capacitação técnico-política dos trabalhadores e o enfrentamento das contradições desse trabalho.

Concluindo nossos estudos, constatamos a importância do envolvimento de profissionais, usuários e familiares nesse contexto atual do cuidado em Saúde Mental. Desse modo, o PTS é uma ferramenta que envolve usuários, familiares e profissionais dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial em seu contexto social, contribuindo para o cuidado humanizado e direcionado àquele que o necessita.