De acordo com a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), “a indissociabilidade é proposta como modo de produzir saúde e de gerir os processos de trabalho, entre atenção e gestão, entre clínica e política, entre produção de saúde e produção de subjetividade” (BRASIL, 2009b, p. 4). Com isso, apresentam-se inovações nas práticas gerenciais e nas práticas de produção de saúde, propondo para os diferentes profissionais das equipes envolvidos nessas práticas o desafio de superar limites e experimentar novas formas de organização dos serviços e novos modos de produção e circulação de poder (BRASIL, 2009b).
Quando nos referimos à humanização, ainda considerando a Política Nacional de Humanização, “devemos compreender a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Os valores que norteiam essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva nas práticas de saúde” (BRASIL, 2009b, p. 5).
Nesse contexto, lançou-se mão de ferramentas e dispositivos para consolidar as redes, os vínculos e a corresponsabilização entre pacientes, profissionais e gestores. Ao direcionar estratégias e métodos de articulação de ações, saberes e sujeitos, pode-se efetivamente potencializar a garantia da atenção integral, resolutiva e humanizada (BRASIL, 2009b).
Considerando tais mudanças, a Clínica Ampliada, as Equipes de Referência e os Projetos Terapêuticos Singulares têm-se mostrado como dispositivos resolutivos, tanto no âmbito da atenção, quanto no âmbito da gestão de serviços e redes de saúde (BRASIL, 2009b).
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Desse modo, neste estudo aprofundaremos nosso conhecimento sobre o conceito de Projeto Terapêutico Singular, dispositivo importante para a intervenção em Saúde Mental (BRASIL, 2009b).
Projeto Terapêutico Singular: conceitos, objetivos e construção
O conceito de Projeto Terapêutico vem sendo construído nos últimos anos juntamente com o desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica e do Sistema Único de Saúde (SUS). Para que você bem compreenda esse conceito, abordaremos de que forma essa ferramenta é utilizada nos serviços da Rede de Atenção Psicossocial, como dispositivo de integração e organização das equipes de profissionais de saúde (BRASIL, 2010).
Assim, apresentamos a seguir os seus conceitos, objetivos e processo de construção, de maneira que você entenda as mudanças que influenciaram a construção do projeto terapêutico.
Conceitos
Destaca-se que o termo “projeto” utilizado no PTS deve ser entendido não apenas no seu sentido de plano, organização de atividades, mas em ações orientadas pela necessidade de resolução de um dado problema. Como projeto, subentende-se a ideia de “projetualidade”, ou seja, a capacidade de pensar e de criar novas realidades e novas possibilidades (ROTELLI et al., 1990; NICÁCIO, 2003).
Entende-se por Projeto Terapêutico Singular (PTS) o conjunto de propostas que visam ao cuidado do indivíduo por meio de condutas terapêuticas articuladas e direcionadas às suas necessidades individuais ou coletivas, como, por exemplo, no grupo familiar (BRASIL, 2009b).
Para melhor compreendê-lo, podemos comparar o PTS como uma variação de discussão de estudo de caso. Entretanto, a construção e a negociação do PTS é um processo coletivo que inclui não apenas os trabalhadores, mas também o usuário e sua família.
Além disso, o PTS vem sendo bastante desenvolvido em espaços de atenção à Saúde Mental como forma de propiciar uma atuação integrada da equipe, valorizando outros aspectos além do diagnóstico psiquiátrico e da medicação no tratamento das pessoas portadoras de transtornos mentais ou com problemas decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas (BRASIL, 2009b).
No cotidiano das experiências desenvolvidas, observa-se que o planejamento do cuidado com o uso do PTS tem sido utilizado como estratégia para discussão em equipe, visando à resolução de casos de maior complexidade (OLIVEIRA, 2008b). Em geral, o caso julgado de maior complexidade é aquele que se destaca dos outros, no serviço, para a formulação de um PTS. Isso ocorre quando já houve um investimento da equipe na tentativa de resolução da problemática em questão e não se obtiveram os resultados esperados.
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Palavra do Profissional |
Acompanhe na página a seguir como a equipe pode lidar com essas questões.