O que ameaça a vida? A morte, além de nos causar medo é, também, uma ameaça à vida. Cada vez mais, o processo histórico-cultural nos conduz a ter medo da ameaça de morrermos. Nesse sentido, antigamente, as mortes caracterizavam-se por serem fatos mais públicos e sociáveis do que privados, porém, ao longo do processo civilizador, mudaram os problemas a que cada pessoa esta exposta, logo, alteraram-se os modos como os indivíduos lidam com o processo de morte e morrer (VARGAS; MEYER, 2003).
Note que os conhecimentos técnicos e científicos, anteriores ao século XX, caracterizavam-se por uma medicina como predominantemente paliativa, voltada para o alívio do sofrimento e para tratamentos que melhorassem a qualidade de vida. No entanto, o desenvolvimento tecnológico na área da saúde, verificado mais intensamente a partir da metade do século passado, transformou os indivíduos em consumidores de cuidados de saúde. Consequentemente, produziu-se determinados jeitos de cuidar que não visam mais, apenas, o alívio do sofrimento, mas também a cura das doenças. E, mesmo que algumas doenças sejam curadas, com o uso da tecnologia e o intervencionismo médico dentro das instituições hospitalares, consolidou-se o prolongamento da vida, adiando a morte (VARGAS; MEYER, 2003).
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Acompanhe na animação a seguir alguns dados que reforçam esta temática:
Dessa maneira, inicialmente, os CP surgem como uma biopolítica para dar conta daquela porcentagem da população que preencherá as estatísticas de morbimortalidade do câncer. (SILVA, 2010).
Preste atenção nesta imagem, principalmente, na capa do Palliative care.
Capas dos Guias da Série de Manuais da OMS “Controle do Câncer” – Módulos de Planejamento, Prevenção, Detecção Precoce, Diagnóstico e Tratamento, Cuidados Paliativos e Políticas e Defesas (SILVA, 2010).
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Repare que, independente das diferentes descrições, o ponto em comum nessas capas é de se estar olhando para uma pessoa que, aparentemente:
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As experiências do processo de morte e morrer perduram pela vida desses familiares e os significados que irão construir em torno do processo de perda depende também da qualidade das relações travadas. Assim, quanto mais o clima for de conforto e confiança, mais a experiência pode ser positiva, porque os gestos de atenção e cuidado ficarão presentes sempre nas lembranças dos familiares (FERREIRA; SOUZA; SUCHI, 2008).
A Enfermagem deve reconhecer que os CP vêm preencher uma lacuna existente no cuidado do doente terminal, à medida que minimiza os efeitos de uma situação fisiológica desfavorável, prezando pelo não abandono, pelo acolhimento espiritual do doente e de sua família, além do respeito à verdade e a autonomia do doente (OLIVEIRA; SÁ; SILVA, 2007).
A medicina paliativa não acelera nem retarda o processo de morrer; mas reconhece a morte como algo natural na vida. Nesta perspectiva, deve-se fornecer apoio e ajuda à pessoa em seu processo de terminalidade para que ela consiga viver mais ativa e criativamente possível até a hora de sua morte; aos familiares para que eles vivenciem com mais naturalidade e sem tanto sofrimento a doença de seu familiar e o processo de luto.
Fique atento, pois quando a cura não é possível, alternativas devem ser apontadas para tentar resolver o problema das alterações físicas que debilitam a pessoa e que ocorrem ao longo do desenvolvimento de uma doença crônica. Assim, os CP surgem como uma alternativa proposta para pensarmos de outro modo a assistência aos usuários do sistema de saúde fora de possibilidades terapêuticas de cura, inventando outros jeitos de cuidar.