z' Curso de Especialização - Linhas de Cuidado em Enfermagem

Módulo 7: Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
Unidade 2: Cuidado em Atenção Psicossocial.

Dimensões do cuidado na Atenção Psicossocial
Processo de trabalho: núcleo e campo no trabalho interdisciplinar
O Enfermeiro nas equipes de atenção

Introdução

Processo de trabalho: núcleo e campo no trabalho interdisciplinar

O campo psicossocial tem como pressuposto a superação da rigidez da especificidade profissional e flexibilidade para gerar o cuidado compatível com a necessidade do usuário. Dando coerência para a reorientação do modelo de atenção à saúde como processo e não como ausência de doença, com produção de qualidade de vida, enfatizando ações integrais e de promoção de saúde. Pressupondo ação integrada da equipe de saúde, solidária, acolhedora, cooperativa, não hierarquizada, reflexiva e colaborativa no sentido de oferecer ao usuário um cuidado compatível com o viver digno em comunidade tal qual a população em geral (SILVA; FONSECA, 2005).

Associado às dimensões do cuidado, como acabamos de ver, para possibilitar a efetivação de um cuidado em saúde mental voltado para a reabilitação psicossocial das pessoas com transtornos mentais são necessárias mudanças nos processos de trabalho dos profissionais de saúde, sobretudo com relação a (re)organização da prática da equipe multidisciplinar que atua nesses serviços (PEREIRA; MACHADO; NASCIMENTO, 2008).

O processo de trabalho deve propiciar a reabilitação psicossocial em ações multi, interdisciplinares e transversais, considerando elementos da subjetividade do usuário como, autonomia, autoestima, autocuidado, identidade pessoal e social (JORGE et al., 2006). Para isso, é indispensável à utilização de dispositivos e ferramentas como acolhimento, vínculo, construção de autonomia, corresponsabilização e a própria resolubilidade (JORGE et al, 2010).

Palavra de Profissional

Pluridisciplinariedade e multidisciplinariedade referem-se a duas ou mais disciplinas que se relacionam ao olhar de um mesmo objeto de vários ângulos. Há uma associação de áreas com um objeto comum, sem que cada uma tenha que modificar significativamente sua maneira de compreender as coisas. Interdisciplinariedade e transdisciplinariedade implicam uma articulação, uma interpenetração dessas disciplinas.

A proposta é de um trabalho interdisciplinar que não pretende abolir as especificidades dos vários profissionais e, sim, continuar a realizar as ações que lhes são próprias, mas que eles executem também aquelas que são comuns, valorizando-se aí a utilização de diferentes técnicas e a integração de diferentes saberes (ROCHA, 2005).

No cenário dos Pontos de Atenção da Rede de Atenção Psicossocial, os profissionais possuem diversas formações, de níveis superior e médio e integram uma equipe multiprofissional. Dentre os profissionais de nível superior estão enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos, professores de educação física ou outros necessários para as atividades oferecidas nos serviços. E os profissionais de nível médio podem ser técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, técnicos administrativos, educadores e artesãos (BRASIL, 2004a).

A lógica que direciona o conceito ampliado de saúde requer do profissional não apenas habilidade, atitude e conhecimento, mas a busca permanente pelo bem-estar biopsicossocial, onde as ações de saúde visam auxiliar a pessoa em sofrimento a enfrentar adequadamente as adversidades provenientes dos vários ambientes de convívio. Para tal, é preciso que o profissional conheça a si próprio, despindo-se de preconceitos, dispondo-se a ouvir sem criticar. É requerido que o profissional seja empático de forma a utilizar-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro com autenticidade e coerência no contexto das relações humanas. E ainda, buscar e articular saberes e diferentes recursos para o desenvolvimento desse cuidado, que deve ser pautado no relacionamento interpessoal (MARTINS; GONÇALVES, 2007).

As equipes devem organizar-se para acolher os usuários, desenvolver os projetos terapêuticos, trabalhar nas atividades de reabilitação psicossocial, compartilhar do espaço de convivência do serviço e poder equacionar problemas inesperados e outras questões que porventura demandem providências imediatas, durante todo o período de funcionamento da unidade. O papel da equipe multiprofissional é fundamental para a organização, desenvolvimento e manutenção do ambiente terapêutico (BRASIL, 2004a).

Os profissionais da Atenção Psicossocial passam a ocupar-se dos sujeitos que precisam de tratamento e com a qualidade do cuidado oferecido. Espera-se que os profissionais trabalhem enfatizando as partes mais sadias e as potencialidades do indivíduo, mediante uma abordagem compreensiva oferecendo suportes vocacionais, sociais, recreacionais, residenciais, educacionais, ajustados às demandas singulares de cada indivíduo (AMARANTE, 1999; FUREGATO, 2000; PITTA, 2001). A ação terapêutica engloba todos os profissionais e todos os atores do processo saúde-doença, ou seja, as pessoas em sofrimento mental, familiares e a comunidade inteira (SARACENO, 1999).

O trabalho é algo a ser construído, em cada equipe, de acordo com suas peculiaridades. Os serviços especializados de Saúde Mental, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), por exemplo, de acordo com as políticas da Atenção Psicossocial, devem oferecer variadas atividades como: atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros), em grupo (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outros), oficinas terapêuticas, atenção à família, visitas e atendimentos domiciliares e atividades comunitárias enfocando a integração social do usuário na família e na comunidade (ROCHA, 2005).



O cuidado, nesses dispositivos, compete a todos e o projeto terapêutico singular deve ser discutido em conjunto, por toda a equipe. Isso contribui para que as relações entre os profissionais se construam e se fortaleçam, ao se responsabilizar em conjunto, com respeito, intimidade e cumplicidade, pela cogestão do cotidiano. Nas reuniões diárias, a equipe se conhece e aprende a trabalhar junto, trabalhando as questões que surgem da situação nova, não hierarquizada, própria desse trabalho interdisciplinar (ROCHA, 2005).

Além disso, deve haver a busca pela integração permanente com as equipes da rede básica de saúde e dos serviços especializados em saúde mental em seu território, pois têm um papel fundamental no acompanhamento, na capacitação e no apoio para o trabalho dessas equipes com as pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2004b).

Um fator importante a ser considerado, nessa questão, é a dificuldade própria do trabalho interdisciplinar, que implica perceber até que ponto manter a especificidade de suas atribuições, de seu saber, e o quanto devemos trabalhar em conjunto. A proposta de trabalho multidisciplinar direciona-se no sentido contrário ao movimento que se observa na área da saúde, de maneira geral, na qual a especialização tem sido a opção, face ao imenso crescimento dos conhecimentos e das formas de intervenção. Essa dificuldade, certamente, refere-se a todos os profissionais da equipe, no entanto, direcionei-me à área a qual conheço a enfermagem, considerando suas especificidades (ROCHA, 2005).

Neste estudo abordamos o tema sobre o Processo de trabalho: núcleo e campo no trabalho em ações multi, interdisciplinares e transversais, e sua aplicação nos cuidados em atenção psicossocial.

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