Módulo 8: Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher, do Neonato e à Família no Alojamento conjunto
Unidade 3: Alterações fisiológicas do neonato

Avaliação clínica e exame físico do recém-nascido
Termorregulação do recém-nascido e Taquipneia transitória do recém-nascido
Icterícia neonatal

Icterícia neonatal

A maioria dos recém-nascidos é saudável, porém, níveis séricos elevados de bilirrubina indireta (BI) causam a hiperbilirrubinemia. A principal causa da icterícia no recém-nascido é a icterícia fisiológica; ela é autolimitada e apresenta-se após o terceiro dia de vida (ORSHAN, 2010; BRASIL, 2011; HOCKENBERRY, 2006). O nível sérico de BI atinge um pico de 4 a 12mg/dl em torno do 3o ao 5o dia após o nascimento. A icterícia fisiológica tem progressão cefalocaudal e comumente desaparece ao final do 7o dia.

A divisão por zonas corporais permite uma melhor avaliação clínica do recém-nascido, como também aproxima a noção dos níveis séricos de BI. A presença de icterícia em zonas específicas do corpo é apresentada na figura abaixo (BRASIL, 2012).

Figura 3.1 – Zonas de icterícia de Kramer. Fonte: BRASIL (2012)

Porém, discute-se que a variabilidade dos valores em cada zona aponta a não existência de uma concordância entre médicos e enfermeiros na avaliação clínica da icterícia e valores da BI sérica (BRASIL, 2011b; 2011c). É preciso experiência clínica para avaliação da icterícia mediante a visualização da coloração da pele nos diversos segmentos do corpo; outro fator envolvido diz respeito à pigmentação da pele do recém-nascido e da luminosidade do ambiente no qual ele se encontra no momento da avaliação (BRASIL, 2011b; 2011c).

Nesse sentido, faz-se necessária a confirmação da bilirrubina sérica mediante uso de equipamentos laboratoriais (BRASIL, 2011b; 2011c).

Os fatores de risco para o desenvolvimento hiperbilirrubinemia indireta são variados e envolvem a idade gestacional no momento do nascimento, o tipo de alimentação do recém-nascido, doenças, tocotraumatismos, entre outros (BRASIL, 2011b; 2011c), conforme apresentado na animação abaixo:

A impregnação da bilirrubina indireta ocorre em tecidos gordurosos do corpo, entre eles o cérebro. A BI em excesso pode levar à neurotoxicidade, uma vez que ela atravessa a barreira hematoencefálica (ORSHAN, 2010) e o recém-nascido apresenta risco para o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica, mais conhecida como Kernicterus. Esta condição pode levar a sequelas neurológicas graves, com dano permanente ao sistema nervoso central, anormalidades motoras, surdez, retardo mental e convulsões (HOCKENBERRY, 2006; ORSHAN, 2010).

Saiba Mais
Você pode aprofundar seus conhecimentos acerca da Icterícia lendo atentamente o material indicado sobre Icterícia, disponível AQUI.

Nos primeiros dias ocorre a fase aguda da doença que perdura por algumas semanas; o recém-nascido apresenta quadro de letargia, hipotonia, e sucção débil (BRASIL, 2011b; 2011c; HOCKENBERRY, 2006). Caso não seja tratada a hiperbilirrubinemia, surge quadro de hipertonia com hipertermia e choro agudo (alta intensidade). Esta hipertonia apresenta-se como um retroarqueamento do pescoço e tronco; progride para apneia, com convulsão e morte (BRASIL, 2011b; 2011c). Mediante pronta e adequada intervenção é possível a reversão da fase aguda da encefalopatia bilirrubínica (BRASIL, 2011b; 2011c).

Diversos autores apontam o tempo cada vez mais reduzido de permanência no hospital após o nascimento como um dos aspectos que dificultam a identificação e o monitoramento de recém-nascidos com risco de hiperbilirrubinemia (BRASIL, 2011b; 2011c; ORSHAN, 2010).

Palavra do Profissional
A icterícia que aparecer antes das 24 horas de vida (precoce), deve ser considerada patológica e necessita de avaliação rigorosa.

O tratamento da icterícia envolve principalmente a fototerapia, com aplicação de luz fluorescente sobre a pele exposta do recém-nascido. A luz favorece a excreção de bilirrubina através da foto-isomerização, que altera a estrutura da bilirrubina para uma forma solúvel, lumirrubina, para uma excreção mais fácil (HOCKENBERRY, 2006). Outra forma de tratamento é a exsanguineotransfusão, porém, mais indicada em casos graves de icterícia, com níveis elevados de bilirrubina no sangue, como mostrado na tabela abaixo.

Tabela 3.1 - Níveis de bilirrubina total e indicação de fototerapia e exsanguineotransfusão. Fonte: BRASIL (2011).

Os tipos de equipamentos utilizados para a fototerapia são variados e dependem do tipo de luz que irradiam; fototerapia convencional (lâmpadas fluorescentes brancas ou azuis especiais), fototerapia de alta intensidade (lâmpadas azuis especiais) (BRASIL, 2011b; 2011c). A radiância também difere entre os equipamentos, sendo necessária uma adequada radiância e exposição do corpo do recém-nascido a esta luz para que o tratamento seja eficaz.

Esta terapêutica demanda cuidados relacionados, tanto ao recém-nascido quanto ao ambiente e ao uso dos equipamentos (HOCKENBERRY, 2006; ORSHAN, 2010 BRASIL, 2011b; 2011c).

Na animação abaixo, descreveremos cada cuidado, como também sua justificativa para melhor compreensão.

Além de todos os cuidados elencados acima, é importante também que você lembre-se sempre de que:

  • O recém-nascido deve permanecer em fototerapia 24 horas por dia.
  • Evite retirar o recém-nascido a todo o momento da fototerapia. Retire-o apenas para a alimentação e para a realização de higiene perineal.
  • A mãe deve receber informações claras e suficientes para compreender a necessidade de seu filho estar em fototerapia e dever permanecer todo o tempo sob este tratamento.
  • Lembre-se que a partir do momento em que o recém-nascido inicia a fototerapia, perde-se o parâmetro clínico de avaliação da icterícia, ou seja, a possibilidade de identificar visualmente a coloração amarelada na pele do recém-nascido. Porém, a bilirrubina ainda poderá estar elevada, sendo necessário o controle laboratorial.