Anatomia da mama, fisiologia da lactação, leite humano e Cuidados de Enfermagem ao aleitamento materno
Dificuldades frequentes
Ingurgitamento mamário
O fenômeno de ingurgitamento mamário ocorre pelo congestionamento venoso e linfático da mama e pela estase láctea em qualquer das porções do parênquima (conforme demonstra a foto 5.2). É comum sua ocorrência entre o 3º e 8º dia de puerpério devido à pressão exercida pelo leite no sistema canalicular, podendo desaparecer entre 24 e 48 horas após seu início.
Foto: Ingurgitamento mamário.
A causa deste fenômeno é atribuída ao esvaziamento incompleto ou inadequado da glândula mamária determinado pela sucção deficiente ou pelo desequilíbrio entre a produção e a ejeção da secreção láctea. As mamas apresentam-se aumentadas de tamanho, em tensão máxima, túrgidas, dolorosas e quentes. A rede de Haller apresenta-se bastante visível e saliente com ingurgitamento venoso. Poderá ocorrer ainda mal estar geral, cefaleia e calafrios.
Constituem-se fatores predisponentes para a ocorrência do ingurgitamento mamário:
Cuidados de Enfermagem à mulher com ingurgitamento mamário
Dentre os cuidados profiláticos, veja o que o profissional enfermeiro deve realizar:
- Orientar sobre o uso de sutiã adequado e de maneira correta, de modo que as mamas fiquem firmes e suspensas, sem, contudo, provocar garroteamento da rede venosa, linfática ou do sistema canalicular.
- Orientar sobre o posicionamento adequado (da mãe e do bebê) no momento de amamentar, com a finalidade de estabelecer adequada capacidade de sucção, demonstrando como colocar e retirar a criança do peito e as posições adequadas para amamentar.
- Estimular o reflexo de ejeção do leite através de pressão intermitente sobre a região mamilo areolar antes de iniciar a mamada ou a extração do leite.
- Observar a tensão da mama e da região mamilo areolar antes da mamada. Em caso de tensão máxima, esvaziar previamente a ampola galactófora até que a região mamilo areolar se torne macia, flexível e apreensível.
- No período da amamentação, oferecer única e exclusivamente o peito, a partir da primeira meia hora após o parto.
- Orientar para a amamentação sob livre demanda.
- Contraindicar o uso de bicos, mamadeiras e chupetas.
- Orientar para o esvaziamento adequado das mamas.
- Orientar para amamentar nas duas mamas.
- Aumentar a frequência das mamadas.
- Favorecer a técnica correta da amamentação.
- Fortalecer a confiança materna.
- Manter a mãe e o bebê juntos.
- Demonstrar à puérpera como estabelecer uma boa pega.
- Propiciar ambiente tranquilo para amamentação.
- Após as mamadas, realizar a inspeção e palpação da glândula mamária à procura de pontos doloridos e endurecidos tentando identificar o tipo de ingurgitamento por área de localização.
Dentre os procedimentos para o tratamento, veja as recomendações da enfermagem:
- Esvaziar o peito após as mamadas por meio de ordenha, preferencialmente manual, iniciando na base areolar, até que desapareçam os pontos dolorosos (ver ordenha manual).
- Usar sutiã com boa sustentação.
- Utilizar técnicas de relaxamento e redução do stress.
- Uso de analgésicos, se necessário.
- Manter a amamentação exclusiva e frequente nas 24 horas (demanda livre).
Trauma mamilar
Entre as intercorrências precoces mais frequentes na amamentação, os traumas mamilares ocupam posição de destaque e têm como principal causa a pega incorreta. Com base em pesquisas realizadas nas duas últimas décadas, sabe-se que o tipo de mamilo, do ponto de vista de sua formação anatômica, pouco influencia no estabelecimento e sucesso da amamentação.
Na classificação dos traumas mamilares, esses traumas geralmente são agrupados e denominados de fissuras. Entretanto, por apresentarem características diferentes e acometerem áreas distintas na região mamilo-areolar, eles são classificados por Vinha (1994) como:
Dentre os fatores causais dos traumas mamilares, listamos:
- Pega e posição inadequadas (principais).
- Sucção ineficiente.
- Uso de lubrificantes.
- Uso de medicamento tópico.
- Higiene excessiva.
- Monilíase mamária.
- Malformações do mamilo.
- Sucção prolongada (mais de 1 hora).
Sintomas: presença de solução de continuidade em forma de fenda, com profundidade e extensão variáveis, podendo apresentar sangramento e dor localizada.
Cuidados de enfermagem à mulher com trauma mamilar
Ao prestar o cuidado à mulher, nesta situação específica, os profissionais devem:
- Usar as habilidades de aconselhamento, visando fortalecer a autoconfiança da mulher: saber ouvir, elogiar, dar sugestões e não ordens, não usar palavras de julgamento, dar ajuda prática.
- Identificar o conhecimento prévio da nutriz sobre noções de anatomia da glândula mamária feminina, fisiologia da lactação, vantagens do aleitamento materno e técnicas de amamentação.
- Apoiar a nutriz a observar a técnica adequada para amamentar, orientando-a para manter a região mamilo-areolar seca e aerada; não usar lubrificantes, pomadas ou outros medicamentos tópicos; realizar a expressão do leite no término da mamada, espalhando-o em toda a região mamilo-areolar, deixando secar espontaneamente.
- Sugerir que a mãe ofereça primeiro o peito menos dolorido, ou aquele que não apresente trauma mamilar.
Outra intercorrência, bastante frequente e penosa para a mulher durante a amamentação, é a mastite puerperal, já abordada na Unidade 4 do presente módulo.
Embora sejam raras, existem algumas situações em que a mãe está impedida de amamentar.
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Saiba Mais |
Para aprofundar seus conhecimentos acerca destas situações, indicamos a leitura das seguintes publicações:
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Manual normativo para profissionais de saúde de maternidades: referência para mulheres que não podem amamentar. Brasília, 2005.
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Gudidelines on HIV and infant feeding: an updated framework for priority action, Genebra, 2012.
- ______. Aconselhamento em HIV e alimentação infantil: um curso de treinamento. Guia do treinador. 2000. São Paulo: Instituto de Saúde, 2003.
No que se refere à importância do aleitamento materno e do manejo clínico da lactação, sugerimos que você assista ao filme: “Amamentação: muito mais do que alimentar a criança”, produzido pelo Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria (2010). Acesse
AQUI.
Em relação à proteção ao aleitamento materno, sugerimos que você assista ao filme “NBCAL: para fazer valer a lei”, produzido e disponibilizado pela Rede IBFAN Brasil (Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar). Este filme mostra como a sociedade civil se organiza para monitorar a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância e de que maneira o governo brasileiro atua no cumprimento dessa fiscalização. Disponível
AQUI.
Neste estudo verificamos que o conhecimento sobre os aspectos relacionados à prática do aleitamento materno é de extrema importância para que o(a) enfermeiro(a) auxilie a puérpera e o bebê a vivenciarem a amamentação de forma efetiva e tranquila. Dessa forma, aprendemos que por meio da avaliação cuidadosa, para identificar os conhecimentos e as experiências prévias da puérpera e de sua família sobre amamentação, o(a) enfermeiro(a) obterá informações que podem auxiliar no estabelecimento e na manutenção do aleitamento materno.