Mas essa obviedade nem sempre foi tão elementar
Você já viu no Módulo 2 que há alguns séculos pesquisadores associaram más condições de vida à maior carga de doenças. Também estudou, no entanto, que essa forma de enxergar o processo saúde-doença foi sufocada pela interpretação exclusivamente biologicista, hegemônica durante boa parte do século XX.
No final da década de 1970, os debates acerca das condições socioeconômicas e suas relações com o processo saúde-doença eram mais restritos e não dispúnhamos de tantos dados para comprovar tal relação. Nessa época, Douglas Black, um médico funcionário do Ministério da Saúde da Inglaterra, compilou dados do sistema de saúde inglês e produziu um rico relatório em que descrevia as taxas de mortalidade das pessoas segundo suas condições socioeconômicas.
Black constatou a existência de profundas desigualdades sociais na mortalidade dos ingleses, porém teve a publicação do relatório vetada pelo governo de Margareth Thatcher, representante de uma coalizão conservadora para a qual não interessava difundir essa informação, por considerar que alimentaria reivindicações sociais por parte dos menos privilegiados, “abalando” a estrutura da sociedade inglesa (RICHMOND, 2002).
Posteriormente, e com muita luta, foi possível divulgar essas informações, e o Black Report, como ficou conhecido o relatório, tornou-se um marco simbólico no novo impulsionamento das pesquisas sobre desigualdades em saúde.
Saiba Mais:
A análise sistematizada de indicadores de saúde produzidos a partir de Sistemas de Informações em Saúde já permitiu produzir inúmeras evidências que atestam a existência de desigualdades socioeconômicas em saúde. Através de estudos epidemiológicos, verificou-se que os mais pobres e menos escolarizados adoecem e morrem mais, mais cedo e por causas mais evitáveis que os mais ricos. No Brasil, existe a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais em Saúde, que produziu um rico relatório a respeito de desigualdades em saúde no Brasil: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais em Saúde. Rio de Janeiro, 2010. Clique aqui para acessar.
Tecnologia e política também determinam os modelos de gestão da informação que as instituições podem assumir, seja num Ministério da Saúde, numa Secretaria Municipal de Saúde ou na sua Unidade de Saúde. Nessa temática, Davenport, Eccles e Prusak (1996) identificaram diferentes modelos que podem existir isoladamente ou em conjunto em organizações públicas ou privadas. Veja a seguir as diferentes possibilidades dos modelos de gestão identificados por esses autores:
Analisando as 5 políticas de gestão da informação descritas acima, você consegue identificar alguma, ou a junção de algumas, em sua Unidade de Saúde ou município?
Saiba Mais:
Você quer saber mais sobre os temas tratados nesse módulo? Duas dicas de leitura são os livros: MORAES, I. Politica, tecnologia e informação em saúde: a utopia da emancipação. Salvador: Casa da Qualidade, 2003 e BRANCO, M. A. F. Informação e saúde: Uma ciência e suas políticas em uma nova era. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.
Boing, d’Orsi e Reibnitz Jr.