A gestação e a fecundação do ser humano, desde os primeiros tempos, estiveram envolvidas por mistérios, tabus, preconceitos e rituais que buscavam explicar o incompreensível, o não visto, a causa geradora do ser humano, bem como o seu desenvolvimento. Os mitos em relação à gravidez eram e continuam sendo incontáveis, desde os tempos mais antigos, passando por alterações de acordo com cada cultura e momento histórico. Por outro lado, os seres humanos tentaram também compreender a concepção e a gestação, atribuindo como suas causas a ação de animais, plantas e espíritos divinos.
Veja como isso se deu em diferentes momentos da história:
*ROUSSELE, A. A política dos corpos entre procriação e continência em Roma. In PERROT, M., DUBY G. História das mulheres no Ocidente: antigüidade. Afrontamento. Porto, v. 1, 1990.
* VECCHIO, S. A boa esposa. In. PERROT M., DUBY, G. História das mulheres no ocidente-idade Média. Porto: Afrontamento, 1990. v. 2, p. 143-183.
Do século XIV ao século XVI, o papel da mulher na gestação foi pouco considerado. No final do século XVI e início do XVII, porém, alguns intelectuais, entre eles, Pierre de La Primaudaye, tentavam comprovar que ambos os sexos eram perfeitos, cada um com seu valor intrínseco.
A multiplicidade das obras de obstetrícia, desde o século XVI, atestava a evolução médica e também uma nova consciência dos clínicos, que consideravam a mulher um ser valetudinário, cabendo ao médico aliviar sua dor e convencê-la a aceitar, sem revolta, a sua condição desfavorável e frágil. Essa situação não permaneceu assim durante muito tempo. No século XIX, resolvidas as dúvidas em relação à fecundação, os médicos passaram a se preocupar com os sinais e sintomas de gravidez e o tempo de duração da mesma. Para eles, a gestação da mulher não tinha duração fixa, podendo durar de sete a onze meses (CRAMPE-CASNABET, 1990*).
* CRAMPE-CASNABET, M. A mulher no pensamento filosófico do século XVIII. In: PERROT, M., DUBY, G. História das mulheres no ocidente: do renascimento à idade média. Afrontamento. Porto, v. 3, p. 371-373, 381-395, 410-455, 1990.
Paralelo aos avanços médicos, a cultura católica do século XIX valorizava o papel materno, instituindo o século da mãe. A elevada mortalidade materno-infantil tornava a maternidade uma situação de risco natural (GIORGIO, 1990*). Desta forma, as mulheres grávidas deviam tornar-se objeto de vigilância ativa e de respeito religioso. Assim, a medicina propunha a proteção da mulher, isentando-a de trabalhos pesados. Vigiava todas as suas atividades, limitando seus passatempos, controlando a gravidez e a mulher. A preocupação com os riscos na gravidez tornava-se evidente, quando foram estabelecidos cuidados preventivos visando evitar as complicações. Observava-se, no entanto, que sob a ótica do moralismo vitoriano, a gravidez tornava-se tabu. A mulher que se encontrava neste “estado interessante”, saía pouco de casa e mostrava-se o menos possível. Da mesma forma, falar sobre o processo do nascimento tornava-se proibitivo.
* GIORGIO, M. O modelo católico. In. PERROT, M., DUBY, G. História das mulheres no Ocidente: o século XIX. Afrontamento. Porto, v. 3, p. 199-203, 1990.
A Era Vitoriana foi o período no qual a Rainha Vitória reinou sobre a Inglaterra, no século XIX, durante 63 anos, de junho de 1837 a janeiro de 1901. Ela subiu ao trono quando seu tio, Guilherme VI, morreu sem deixar herdeiros. Ela fora coroada ainda muito jovem, aos 18 anos. Além do enriquecimento da classe burguesa da Inglaterra, a era vitoriana se caracterizou também pela rigidez de princípios moralistas e por uma típica solidez política.