Módulo 8: Linhas de Cuidado: Oncologia - (Câncer de Mama, Câncer do Colo do Útero e Tumores da Próstata)
Unidade 3: A inserção da família, aspectos culturais e psicossociais do viver com câncer.

Atuação com a família
Sobrevivência ao câncer, reabilitação e (re)inserção social
Direitos sociais da pessoa com câncer

Estigma do câncer

O câncer pode colocar os indivíduos e seus familiares em condição de fragilidade pelo próprio diagnóstico, bem como pelo estigma da doença. Ainda hoje, o câncer é considerado uma das piores doenças e é extremamente temido (BRASIL, 2008a). Neste sentido, pesquisas revelam que a sociedade ainda relaciona o câncer à morte, como doença sem cura, e a emoções negativas, como tristeza, dor, medo, maldição, perda e desespero. E, apesar dos avanços técnico-científicos conquistados, que possibilitam a prevenção, a detecção e o tratamento precoce e a cura de vários tipos de câncer, essa representação social é ainda muito forte (BRASIL, 2008a; CARVALHO, 2008).

Cerca de 80% dos casos de câncer no Brasil são diagnosticados tardiamente, quando os recursos disponíveis para o tratamento são só paliativos. Esta situação limita a esperança de vida, contribui com a deterioração da imagem corporal e sustenta o estigma de que câncer é uma doença incurável (RIBEIRO; SOUZA, 2010).

O estigma da doença compromete as relações familiares, dificultando a fala sobre a doença. Constatar a existência da doença traz sofrimento para todos os familiares. Não é nada raro formarem-se ilhas de comunicação, daqueles que são potencialmente mais fortes e podem saber do diagnóstico e outros que são mais frágeis e devem ser poupados, dentre estes, às vezes, incluem-se as pessoas doentes.

Esse processo truncado de comunicação na família, do segredo que pretende proteger, também pode causar sofrimento, muitas vezes maior do que a própria revelação do diagnóstico de câncer, porque cerceia a expressão dos sentimentos de ambas as partes (CARVALHO, 2008).

Pelo comprometimento da doença em si, mas também pelo estigma ainda presente, vivenciar o processo da doença pode significar privação da sociabilidade cotidiana, segregação, interrupção do curso normal da vida para as pessoas doentes e seus familiares. A fragilidade imposta pela doença pode levar à exclusão social, ou afastamento social, por terem que enfrentar uma sociedade que é excludente dos mais vulneráveis. Se a condição de pobreza, a miséria, o afastamento do trabalho estão presentes, o quadro de vulnerabilidade social se acentua com a doença, limitando ainda mais o acesso a bens e serviços para satisfação das necessidades básicas (CARVALHO, 2008).

Palavra de Profissional
Esta é uma das questões que gostaríamos de refletir com você. Para mudar a representação social do câncer são necessárias políticas específicas, mas com certeza a informação, a educação para à saúde e o atendimento de saúde adequado, favorecendo o diagnóstico e o tratamento precoce, são estratégias que devem estar presentes na prática diária do cuidado de enfermagem.

Após esta breve, mas importante explanação sobre o estigma do câncer, passamos a entender e igualmente refletir sobre a questão e envolvimentos que compreende as fases psicológicas do câncer.

Acompanhe na animação a seguir maiores detalhes sobre esta etapa:

As fases psicológicas funcionam como mecanismos de defesa para enfrentar o processo desconhecido da perda e do morrer, em que os conflitos de ordem emocional, material, psicológica, familiar, social, espiritual, entre outros surgem de forma acentuada, afetando diretamente o relacionamento com a família e com a equipe multiprofissional de saúde (KLÜBLER-ROSS, 1985).

A negação é a reação ao impacto inicial da notícia, quando pode ocorrer uma “paralisação” e a pessoa não conseguir dar seguimento aos pensamentos como antes fazia. É comum nessa fase negar a doença e não acreditar ou desconsiderar a informação recebida. A negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída por uma aceitação parcial (KLÜBLER-ROSS, 1985).

Acompanhe na animação a seguir, uma descrição de cada uma destas fases:

É relevante o aspecto emocional dos profissionais de saúde que cuidam de pessoas com câncer, pois estes também criam mecanismos de defesa que os auxiliam no enfrentamento da doença, da morte e do processo de morrer. Por serem preparados para a manutenção da vida, a morte e o morrer, em seu cotidiano, suscitam sentimentos de frustração, tristeza, perda, impotência, estresse e culpa. Em geral, o despreparo leva o profissional a afastar-se da situação. Assim, as pessoas com câncer, familiares e profissionais que cuidam precisam ser cuidados e compreendidos.

O enfermeiro, ao cuidar de outro em situações desafiadoras, tem a tendência de impor a si mesmo exigências maiores, o que lhe acarreta consequências, que são muitas vezes ignoradas e podem se tornar irremediáveis quando surgem, manifestando, por exemplo, o burnout. Para evitar o burnout, torna-se imprescindível que o enfermeiro aceite o fato de que ele próprio é um ser finito, vulnerável e limitado, que precisa trabalhar essa condição consigo mesmo e que deve ser também cuidado pela sua equipe de saúde e seus gestores (RADÜNZ, 2001).

Palavra de Profissional
Burnout é definida como uma síndrome de exaustão, um desgaste físico e emocional associado ao trabalho profissional.

Dando continuidade, apresentamos o tema:

A sexualidade e o câncer

Sexualidade ou identidade sexual é a inter-relação da imagem corporal, da capacidade funcional, das relações sociais, dos papéis sociais, das crenças religiosas. As doenças, as alterações psicológicas e socias enfrentadas podem alterar a autopercepção sexual (BEDEL, 2000).

Os efeitos colaterais das terapêuticas contra o câncer e as consequências da própria doença podem afetar o nível de interesse sexual, a capacidade, o sentido de adequação e a autoestima. As alterações fisiológicas e psicológicas específicas podem prejudicar a função sexual normal e os sentimentos de feminilidade e masculinidade. Isto também dependerá do tipo de câncer e da terapêutica utilizada (OTTO, 2000).

O diagnóstico da doença, para algumas pessoas, pode provocar dúvidas acerca da identidade sexual e não é nada incomum o constrangimento de questionamentos sobre preocupações sexuais, pois diante do diagnóstico de câncer, preocupações com a sexualidade seriam injustificáveis para muitos. Contudo, deve-se enfatizar que a sexualidade é uma fonte de satisfação física e emocional e a forma mais íntima de partilharmos com o outro (OTTO, 2000).

A abordagem da sexualidade deve ser inter e multiprofissional. Cada profissional deve ter a preocupação de criar vínculos facilitando a interação com a pessoa em tratamento e seus familiares. O vínculo permite que aspectos íntimos sejam revelados e questionados, como é o caso da sexualidade. A inclusão das orientações sobre a sexualidade na consulta e pós-consultas de enfermagem, permite que este momento possa ser aproveitado para o diálogo (OTTO, 2000).

A resposta sexual masculina: desejo, excitação subjetiva, ereção, ejaculação e orgasmo têm mecanismos independentes de controle e podem, por isso, ser afetados separadamente. Já, a resposta sexual feminina envolve o desejo, excitação subjetiva, extensão vaginal, lubrificação e orgasmo. As mulheres podem perder o desejo sexual durante o tratamento, o que pode afetar o clitóris e a vagina. Caso a mulher sinta dor durante o ato sexual isto interferirá na qualidade do orgasmo. Somado a isto, ainda pode ocorrer rejeição ao companheiro pela mulher (OTTO, 2000).

Outros doentes declaram a perda do interesse sexual para se protegerem do constrangimento da perda da função orgástica ou insuficiência de ereção. Atrelados aos fatos da doença e do tratamento, podem se somar o consumo de álcool, o abuso de drogas, a história de abuso sexual, a história de comportamento sexual irresponsável ou de diagnóstico de doença fatal e também simplesmente o fato do medo de ser verdadeiro e de dialogar com o companheiro ou companheira. Cabe aos profissionais orientar e auxiliar em todas estas questões (OTTO, 2000).

Saiba Mais
Para maiores informações sobre este tema. Leia o artigo intitulado Sexualidade em oncologia, de Heloisa Junqueira FleuryI, Helena Soares de Camargo PantarotoII e Carmita Helena Najjar AbdoI.

Clique aqui e confira.

Na próxima página conheça um pouco mais sobre: Autoestima e a imagem corporal e o câncer.