Módulo 8: Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher, do Neonato e à Família no Alojamento conjunto
Unidade 5: Aleitamento Materno

Anatomia da mama, fisiologia da lactação, leite humano e Cuidados de Enfermagem ao aleitamento materno
Ordenha

Cuidados de enfermagem ao aleitamento materno

As mamas femininas sofrem alterações em suas medidas desde o nascimento, quando passam de 8mm de diâmetro e 40g, para cerca de 10cm e 200mg no período da puberdade. Durante a gestação, as mamas duplicam de tamanho e sofrem inúmeras alterações sob efeito dos hormônios estrógeno e progesterona. Estas alterações preparam a mama para o início da produção de colostro, por volta da 16ª e 20ª semana de gestação, que continua até os primeiros dias após o parto. Após o nascimento, com a saída da placenta, ocorre uma queda brusca nos níveis de estrógeno e progesterona, que estimula a produção de prolactina e de ocitocina, pelo hipotálamo-hipófise anterior e hipófise posterior, respectivamente. A prolactina é o hormônio responsável pela produção do leite e a ocitocina, pela ejeção do leite dos alvéolos para os ductos. Assim, em torno de 48 a 72 horas após o parto, ocorre a apojadura, que é a descida do leite. Na apojadura, a mulher sente as mamas cheias, quentes e por vezes doloridas (SANTOS, 2011b; VINHA, 1999; ABRÃO, 2006; MATUHARA; NAGANUMA, 2008).

Palavra do Profissional
O volume de leite produzido aumenta gradativamente. Assim, no 2°dia, está por volta de 50ml/dia; no 4°dia, em torno de 550ml/dia. Aos três meses, é de cerca de 850ml/dia. Esta informação é importante para que a nutriz seja orientada sobre a pequena quantidade de colostro/leite que é produzida nos primeiros dias, que é o esperado para o período.

Os níveis plasmáticos de prolactina se elevam em resposta à sucção do bebê e estão diretamente relacionados à frequência, duração e intensidade da sucção. A sucção da região mamilo-areolar produz uma elevação de prolactina basal, sendo que o pico de produção ocorre entre 20 a 40 minutos após o início da estimulação. Assim, 30 minutos de sucção favorecem níveis elevados de prolactina por cerca de 3 a 4 horas, o que é importante para a produção de leite para as próximas mamadas. Portanto, a sucção do mamilo em livre demanda pela criança é o elemento básico para a manutenção da amamentação.

Com relação à composição do leite materno, este é caracterizado de acordo com as características bioquímicas, adequadas a cada determinado período da vida da criança. Assim, o leite materno distingue-se em conforme apresentamos na animação abaixo (BRASIL, 2001):

Colostro
Líquido espesso, de coloração amarelada devido a alta concentração de betacaroteno e alta densidade, dura em média de 48 a 72 horas após o parto, mas pode permanecer ainda por cerca de 7 dias. O volume, no início, varia de 2 a 20ml em cada mamada, totalizando 50 a 100ml/dia, sendo suficiente para satisfazer as necessidades do lactente. O colostro apresenta alta concentração de lgA e de lactoferrina que, juntamente com a grande quantidade de linfócitos e macrófagos, fornecem proteção ao recém-nascido. Além disso, tem ação laxativa, que facilita a eliminação de mecônio e auxilia na prevenção da icterícia.
Leite de transição
Líquido produzido durante a apojadura, que pode persistir entre o 7° e 15° dia após o parto. O volume de leite e a composição variam no decorrer dos dias (BRASIL, 2001).
Leite maduro
Leite produzido como continuação ao leite de transição. Este apresenta-se como um líquido branco e opaco, com pouco odor, sabor ligeiramente adocicado e seu volume médio é de 700 a 900ml/dia, durante os primeiros seis meses. A partir do segundo semestre, a quantidade média de produção diária é de 600 ml. O leite materno tem 88% de água e possui uma osmolaridade semelhante à do plasma sanguíneo; além da água, é composto por proteínas, carboidratos, lipídeos, minerais e vitaminas.
Leite pré-termo
O leite pré-termo é a denominação para o leite produzido pelas mães de crianças prematuras, que difere do leite de mães de crianças de termo por apresentar: maior teor de proteína, lipídeos e calorias, atendendo à maior necessidade de crescimento do pré-termo; menor teor de lactose, o que torna a digestão facilitada; maior quantidade de lgA e lactoferrina (BRASIL, 2001).

Cuidado de enfermagem ao aleitamento materno

O conhecimento sobre os aspectos relacionados à prática do aleitamento materno é de extrema importância para que o(a) enfermeiro(a) auxilie a puérpera e o bebê a vivenciarem a amamentação de forma efetiva e tranquila, recebendo do profissional as orientações necessárias e adequadas para o êxito deste processo.

Considerando que a mulher passa por um longo período de gestação até que possa concretamente amamentar seu filho, as orientações para amamentação devem ser iniciadas já na gravidez (BRASIL, 2001). Isto porque a gravidez é um período privilegiado para trabalhar o desejo, as dúvidas e as inseguranças das mulheres (e de seus familiares) quanto à amamentação. É um período propício também para desenvolver o conhecimento da mulher, sobre as vantagens do aleitamento materno exclusivo por 6 meses e complementado por dois anos ou mais, sobre seus direitos, sobre o manejo clínico da amamentação e sobre os riscos do uso de mamadeiras, bicos e chupetas. É importante ouvir a mulher, perceber fatores de risco para o desmame precoce e apoiá-la para que possa adquirir autoconfiança em amamentar.

É importante também propiciar a troca de experiências entre as gestantes e buscar o envolvimento dos familiares no apoio à amamentação, através de visitas domiciliares ou de sua participação nos grupos de pré-natal.

Em decorrência do desenvolvimento de pesquisas recentes, hoje se sabe que o preparo das mamas para a amamentação no período pré-natal é uma prática desnecessária, e em alguns casos é até prejudicial. A posição e pega adequadas imediatamente após o nascimento parece ser o critério mais importante para proporcionar uma sucção efetiva pelo bebê, e não o preparo das mamas durante a gestação. No pré-natal, portanto, mais importante do que preparar as mamas da mulher, é atendê-la na sua integralidade. Considerar as múltiplas dimensões que envolvem esta prática, ou seja, físicas, psíquicas, sociais e culturais, para que se possa identificar e compreender que tipo de apoio ela necessita para que possa futuramente alcançar sucesso nesta prática. Observe na animação a seguir importantes cuidados de enfermagem:

Neste período, é importante que o(a) enfermeiro(a) identifique o conhecimento da mulher e de seu companheiro sobre o processo e o seu desejo para amamentar. Esta análise pode ser realizada com entrevistas individuais, discussões em grupo e observação. Para tanto, o(a) enfermeiro(a) deve considerar: experiência prévia em amamentar; fatores culturais, como: crenças sobre o colostro e a estética mamária e pudor relacionado às mamas; sentimentos sobre amamentação, como: ansiedade, medo, confiança; aspectos físicos que podem influenciar, como:

  • cirurgias mamárias;
  • tipo de mamilo;
  • desenvolvimento do tecido mamário;
  • deficiência visual ou auditiva;
  • limitações físicas; e
  • apoio do companheiro, da família e dos amigos e seus graus de conhecimento.
Logo após o parto, o(a) enfermeiro(a) também deve avaliar as condições intraparto que podem influenciar no início da amamentação, como: tipo de parto, tempo transcorrido do parto, complicações obstétricas e neonatais, nível de dor, medicamentos, humor e nível de energia (ALDEN, 2002). À medida que o enfermeiro(a) identifica a vivência e a experiência da mulher, pode trabalhar os conhecimentos dela, reforçando as práticas corretas e discutindo as incorretas (ABRÃO, 2006).

Na próxima página, veremos mais conhecimentos necessários ao cuidado de enfermagem junto às nutrizes, lactentes e suas famílias.