Módulo 8: Linha de Cuidado Nas Urgências/Emergências Traumatológicas
Unidade 7: O idoso vítima de trauma

O idoso vítima de trauma

Quedas e Acidentes de trânsito

Quedas

As autoras Telles et al. (2012) apresentaram um estudo transversal realizado em 2010 com 420 idosos com 60 anos ou mais, residentes em Juiz de Fora- MG, em que revelou que 19% das quedas resultaram em algum tipo de fratura. Para os profissionais, este estudo chama a atenção pelo fato de que as quedas e suas complicações possuem considerável importância na vida dos indivíduos, nos altos custos econômicos e sociais e na sobrecarga dos serviços de saúde.

A tabela apresentada a seguir apresenta os números absolutos de mortes, que foram extraídos do DATASUS (2012). Pode-se perceber que os óbitos em idosos chegaram a 3722 na região sudeste, sendo esta a maior ocorrência. O menor número de óbitos no ano de 2010 concentrou-se na região norte, com 241 idosos vítimas fatais de quedas.

Palavra do Profissional
O DATASUS é um banco de dados nacional alimentado pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e está dividido nas cinco regiões do país.

Os dados apontados pela Fiocruz (2008) destacam que a morte acidental é a quinta causa de óbito na população idosa, e as quedas representam dois terços destes acidentes. A morte como evento diretamente relacionado a esta causa ocorre em cada dois sujeitos por 1000 ao ano, com risco maior em homens e com aumento gradativo de acordo com a idade. O mesmo autor ainda revela estudos prospectivos que indicam que de 30 a 60% da população com 65 anos ou mais que vive em comunidade cai anualmente e metade deste número apresenta quedas múltiplas.

Tabela: Óbitos causados por quedas, no Brasil, por residência segundo Região e faixa etária. Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM (2010).

Os dados apresentados neste estudo informam que as lesões acontecem em 30 a 75% e as fraturas mais comuns são: vertebrais, fêmur, rádio distal e costelas, porém a incidência de fratura do colo de fêmur é de cinco sujeitos por 1000. Alguns idosos que sofreram queda e fraturas acabam apresentando pneumonia, infarto agudo do miocárdio e tromboembolismo pulmonar, aumentando o período de internação e contribuindo para um pior desfecho clínico. Em alguns outros que se recuperam e recebem alta hospitalar, observa-se um declínio funcional progressivo até alcançarem a temível síndrome da imobilidade.

No que se refere à discussão deste estudo reforçando as evidências apresentadas acima, os autores Monteiro e Faro (2010) salientam que a fratura de fêmur representou 67,6% do total de fraturas, com destaque para aquelas que acometiam o terço proximal de fêmur, especialmente as transtrocanterianas e de colo de fêmur, respectivamente. A preocupação com a fratura de fêmur tem merecido destaque nos indicadores de saúde, pois esta é apontada como uma causa comum e importante de mortalidade e perda funcional entre os idosos.

Seu custo social é elevado, já que muitas vezes o idoso requer cuidados médicos intensivos e programas de reabilitação por longos períodos. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (2010, p 15), “A fratura de fêmur em pessoas idosas é um evento catastrófico que pode piorar muito a qualidade de vida por contribuir para a redução de sua capacidade funcional, perda de autonomia e de independência; além de poder levar à internação, institucionalização e à morte prematura.”

Palavra do Profissional
Como enfermeiros do serviço de urgência emergência, precisamos entender que as quedas nos idosos se configuram como um problema multifatorial que possui diversas facetas, o que torna desafiador pensar em uma linha de cuidado que garanta a assistência integral e longitudinal, uma vez que uma queda leva a outra e culmina com a síndrome da imobilidade, sendo esta considerada como um dos gigantes da geriatria.

Acidentes de trânsito

Já discutimos neste estudo que o trauma é a doença que anualmente vem adquirindo grandes proporções na sociedade e por muito tempo esteve relacionado à população jovem e adulta. Contudo, o que muitos talvez não saibam é que os idosos estão tão expostos quanto às demais faixas etárias. Quem nos chama a atenção para esta problemática são os autores Silveira, Rodrigues e Junior (2002) ao deflagrarem que, além da exposição à violência no trânsito, os idosos são mais vulneráveis aos traumas, pois têm capacidade reduzida de recuperação, permanecendo mais tempo hospitalizados e com traumatismos e lesões mais graves. A mortalidade, neste caso, é significativamente maior do que aquela dos pacientes mais jovens, devido ao próprio processo de envelhecimento e à sobrecarga de seus sistemas, entre eles o cardiovascular, ocasionada por doenças crônicas como a hipertensão e a diabetes.

Os mesmos autores demonstram como essa afirmação se comporta entre os dados estatísticos. Em 41,4% dos casos, as vítimas eram pedestres; 32,4% eram passageiros de automóvel; 11,7% eram ciclistas e; 11,7% eram passageiros de ônibus. Para Mantovani (2005), as lesões de membros inferiores e cranioencefálicas são as mais encontradas em idosos.

A tabela a seguir aponta as mortes em idosos distribuídas nas regiões brasileiras, percebe-se novamente na região sudeste um maior número de idosos que foram a óbito pelos acidentes de transporte e, mais uma vez, a região norte destaca-se pelo menor número de óbitos por este agravo.

Tabela: Óbitos causados por acidentes de transporte, no Brasil, por residência segundo Região e faixa etária. Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM (2010).

O acidente automobilístico em que o idoso está envolvido geralmente ocorre em baixa velocidade, sem uso de bebida alcoólica ou drogas e próximo de sua residência. Considerando os dados apresentados no início deste parágrafo, em que as vítimas eram pedestres, acreditamos que medidas de prevenção para idosos e condutores podem ter uma boa resposta nesse cenário.

Continuando o tema, veja na próxima página sobre os cuidados aos idosos vítimas de traumas.