Módulo 9: O cuidado nas urgências e emergências: cirúrgicas, ginecológicas e obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e demais agravos.
Unidade 2: Os cuidados de enfermagem nas urgências/emergências ginecológicas e obstétricas

Abortamento: diagnóstico e intervenções de enfermagem
Placenta prévia: manifestações clínicas e exames laboratoriais
Descolamento prematuro da placenta e rotura uterina

Descolamento prematuro da placenta

O descolamento prematuro da placenta

Essa separação pode ser parcial ou total e é classificada em três graus, levando em conta os achados clínicos e laboratoriais, de acordo com a classificação de Sher (BRASIL, 2010).

Grau 1
Sangramento genital discreto sem hipertonia uterina significativa. Vitalidade fetal preservada. Sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatia. Geralmente diagnosticado no pós-parto com a identificação do coágulo retroplacentário.

Grau 2
Sangramento genital moderado e contrações tetânicas. Presença de taquicardia materna e alterações posturais da pressão arterial. Alterações iniciais da coagulação com queda dos níveis de fibrinogênio. Batimentos cardíacos fetais presentes, porém com sinais de comprometimento de vitalidade.

Grau 3
Sangramento genital importante com hipertonia uterina. Hipotensão arterial materna e óbito fetal.
Grau 3A: Sem coagulopatia instalada.
Grau 3B: Com coagulopatia instalada.

A incidência do DPP varia conforme a capacidade dos profissionais em estabelecer o diagnóstico. A área descolada pode se estender desde alguns milímetros até a totalidade da placenta e a sintomatologia varia na mesma proporção.

O DPP ocorre em aproximadamente 1 a 2% das gestações. É uma das piores complicações obstétricas, com aumento muito importante da morbimortalidade materna, por maior incidência de hemorragia, anemias, coagulopatias, hemotransfusoes, cesárea e histerectomia. A morte materna é de cerca de 6%.

Palavra de Profissional
O descolamento prematuro da placenta é uma emergência clínica importante. Exige intervenções rápidas e efetivas para evitar morbimortalidade materna e fetal.

Assim, dependendo da área descolada, podem também ocorrer complicações perinatais, por exemplo: prematuridade, restrição de crescimento fetal, baixo peso ao nascer, sofrimento fetal e óbito perinatal. O DPP é descrito como a principal causa de óbito perinatal. A taxa geral de mortalidade fetal é de 20 a 40% (BRASIL, 2010; RICCI, 2008).

Sua etiologia ainda é desconhecida, no entanto, há diversos fatores de risco associados, tais como: extremos etários <20 anos ou >35 anos; nutrição inadequada; tabagismo materno; gestação múltipla; pressão intrauterina excessiva causada por hipertensão arterial; descolamento prematuro pregresso em uma gestação anterior; traumatismo importante, como acidente automotivo ou lesão secundária à violência doméstica; uso de cocaína e metanfetamina; etilismo e multiparidade; membranas amnióticas rotas prematuramente por tempo prolongado (>24h); oligodrâmnio; pré-eclampsia e; condição socioeconômica desfavorável (BRASIL, 2010; RICCI, 2008).

A hipertensão é responsável por até 50% dos casos de DPP. Tanto a pré-eclampsia quanto a hipertensão arterial crônica são fatores de risco importantes para o DPP. A ausência de hipertensão no momento da chegada não exclui a etiologia hipertensiva, já que a gestante pode estar hipovolêmica.

Manifestações clínicas

O descolamento prematuro da placenta pode ocorrer em qualquer fase da gravidez. O quadro clínico depende da extensão da área descolada, podendo apresentar dor repentina com intensidade variável, localizada, em geral, no fundo do útero. A hipertonia uterina é um sinal frequente nos graus mais intensos de DPP. Há presença de sangramento vaginal vermelho escuro em 80% dos casos, constituindo a hemorragia externa. Em 20% ocorre hemorragia oculta ou interna, tendo em vista que o sangue retroplacentário fica retido (BRASIL, 2010; RICCI, 2008; ENKIN, 2005).

Palavra de Profissional
É importante que o enfermeiro saiba da possibilidade de sangramento oculto no DPP, porque é uma situação extremamente grave, tanto para a gestante quanto para o feto.

Algumas vezes pode ocorrer infiltração sanguínea intramuscular intensa, atingindo todo o útero, que adquire coloração azulada ou púrpura. Esse sangramento é responsável pela apoplexia uteroplacentária ou “útero de Couvelaire”, que ocasiona déficit contrátil, sendo importante causa de hemorragia pós-parto (BRASIL, 2010; RICCI, 2008).

O enfermeiro deve estar atento na avaliação da gravidade da hemorragia, pois o pulso radial pode se apresentar cheio e com a frequência dentro dos limites da normalidade, em discordância com o estado anêmico. Esta característica do pulso é efêmera, pois logo se acelera e torna-se débil, surgindo à hipotensão e delineando-se o estado de choque (RICCI, 2008; ENKIN, 2005).

O diagnóstico de DPP é clínico. A ultrassonografia pode ser realizada nos casos em que há estabilidade hemodinâmica materna e vitalidade fetal preservada e, ainda, quando há dúvida sobre a localização placentária.

Pontos principais que devem ser observados durante o exame físico para o diagnóstico de DPP, segundo Ministério da saúde (BRASIL, 2010):

a. Observar vias aéreas pérvias, padrões de respiração e circulação;
b. Sinais vitais: observar taquicardia e alterações posturais da pressão;
c. Exame obstétrico: medida de altura uterina, BCF, hipertonia uterina;
d. Monitoração fetal: padrão não tranquilizador;
e. Palpação abdominal: contrações tetânicas.

Saiba Mais
Convidamos você a consultar o Manual Técnico Gestação de Alto Risco, do Ministério da Saúde, disponível aqui.

Exames laboratoriais que devem ser solicitados para a gestante com diagnóstico de DPP, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010):

• Hemograma com contagem de plaquetas;
• Tipagem sanguínea ABO Rh;
• Coagulograma;
• Exames de rotina para doença hipertensiva, se necessários.

Palavra de Profissional
O DPP deve ser tratado imediatamente e de acordo com sua classificação para promover o melhor desfecho tanto para a gestante quanto para o feto. O papel do enfermeiro é muito importante na avaliação da gestante que apresenta dor abdominal ou sangramento vaginal. A avaliação deve ser realizada de forma atenta, pois constitui a base da conduta clínica e da intervenção.

Na próxima página, abordaremos a rotura uterina. Acompanhe!