Saúde e Sociedade

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A epistemologia da saúde: as diversas formas de pensar a saúde

A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí também pode-se designar por filosofia do conhecimento). Ela se relaciona ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma vez que avalia a consistência lógica da teoria e sua coesão fatual.

A respeito das diferentes formas de ver o que é, ou como se faz a saúde, a discussão que se coloca é epistemológica. Há uma epistemologia chamada construtivista que diz que o conhecimento/a ciência é um processo, ou seja, está constantemente mudando – está em construção. Sofre um período de harmonia das ilusões (Fleck), ou de ciência normal (Kuhn), ou de estabilidade (Piaget), ou de continuidade (Bachelard), e evolui para que os dados instabilizadores/anormais/desarmônicos rompam epistemologicamente, mudando a ciência antiga. É colocado um novo estilo de pensamento/paradigma para ser a verdade provisória da nova ciência que acumula o velho e com isso traz o princípio do conhecimento máximo. Isso parece muito mais uma discussão filosófico-sociológica, mas ela é básica para que se entenda a saúde.

Um exemplo interessante, extraído da Gestalt (da Psicologia), para discutirmos um pouco mais sobre esse tema, pode ser a leitura de três letras: A-I3-C. Após isso, a leitura de três números: I2,I3,I4. A pergunta é: o que significa o I3?

Bom, num contexto de letras, é a letra bê, num contexto de números, é o número treze. Logo, eu vejo as coisas dentro de um contexto. Naquela realidade de números não me é dada outra coisa senão ver o treze.

Continuemos o raciocínio do significado das coisas em determinado contexto, agora nos aproximando da questão da saúde. Pois bem, na saúde–doença, podemos vivenciar a mesma situação do exemplo apresentado anteriormente. Se eu penso sobre a tuberculose, dentro de um jeito de pensar, posso pensar que é uma doença causada por uma bactéria (Mycobacterium tuberculosis); que, com o advento do microscópio, conseguimos localizar a sua causa; e que, com a invenção dos antibióticos, passamos a tratá-la definitivamente. Mais que isso, com a vacina, passamos a evitar que as pessoas se contaminem com a bactéria e fiquem doentes.

Esse raciocínio é ditado por um jeito de ver que pode ser questionado de diversas maneiras:

O gráfico abaixo assinala a mortalidade por tuberculose entre 1870 e 1970 na Inglaterra e Gales. Notamos que temos uma diagonal quase reta de diminuição. Alguns fatos, entretanto, são notáveis: a descoberta do bacilo em 1882, do antibiótico contra a tuberculose em 1942 e da vacina eficaz na década de 1960, ou seja, a marcha da diminuição não foi impactada por esses eventos. A tuberculose no mundo diminuiu por outros motivos (MCKEOWN; LOWE, 1981 apud COSTA, 1988).


Gráfico 1 – Gráfico de McKeown: tuberculose respiratória, taxa de mortalidade anual média na Inglaterra e Gales
Fonte: MCKEOWN; LOWE, 1981.


Atenção: isso não significa que devemos jogar fora esse conhecimento adquirido (bactérias, vacinas, antibióticos etc.).

Verdi, Da Ros, Cutolo e Souza

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