Módulo 5: Históricos e Conceituais da Saúde Mental e Atenção Psicossocial
Unidade 2: Bases Conceituais

Ser humano, condição humana, subjetividade
Saúde-doença, o normal e o patológico
Da Desinstitucionalização a Atenção Psicossocial

Sofrimento, sofrimento psíquico, transtornos mentais

Lobosque (2001), abordando a questão do sofrimento psíquico, coloca que as concepções existentes sobre o tema são diversas no âmbito da luta antimanicomial e que assim esta deve ser, considerando que esse movimento busca a pluralidade como uma de suas marcas.

A desinstitucionalização italiana demonstrou que não se trata de encontrarmos respostas simples para um problema (problema-solução), mas sim de enfrentarmos a complexidade das concepções, das instituições e das práticas instituídas nesse campo, colocando em questão não apenas os conceitos, mas também as práticas de tratamento e cuidado.

Neste horizonte, de acordo com Rotelli et al. (1990, p. 30), o objeto do cuidado não é mais “a doença”, mas sim a “existência-sofrimento” dos pacientes e a sua relação com “o corpo social”. É necessário reconstruir a complexidade do objeto-sofrimento mental, e não reduzi-lo.

Sofrimento é entendido, de acordo Rodgers e Cowles (1997), como uma experiência individualizada, subjetiva e complexa caracterizada pela percepção de uma situação, ou ameaça, e de um significado negativo intenso. Esse significado envolve perda, ou perda percebida da integridade, da autonomia ou da humanidade.

Para Yasui (2006), falar de sofrimento é identificá-lo integralmente, perceber a dor, o desespero, a ansiedade, a dificuldade que a vida coloca. O autor comenta que agregar o termo psíquico à palavra sofrimento significa enfatizar a subjetividade como possível caminho para a integralidade.

O sofrimento psíquico é parte do humano e da vida; é de seu ser biológico, mas o ultrapassa; é complexo, não descarta a dimensão subjetiva e nem a concreta e a relacional da experiência do sofrimento; e não pode ser reduzido aos seus sintomas e nem patologizado.

Neste sentido, faz-se necessário realizar uma discussão sobre a gravidade do sofrimento, algo para além de uma classificação específica, mas atrelada as suas formas de expressão e sua intensidade, assim como sobre suas implicações quanto à produção de conflitos e aos riscos envolvidos no contexto em que se desenvolve.

Hoje, faz-se necessária a inclusão de novas práticas, que requerem do profissional da enfermagem na Atenção primária e da Atenção psicossocial um olhar voltado para a dimensão subjetiva de todas as enfermidades. Também para o sofrimento psíquico, desde os mais comuns até os mais graves, privilegiando o cuidado comunitário e a inserção social para que, assim, se possa trabalhar em rede.

O desafio colocado é o de repensar nossos conceitos e nossas práticas e questioná-los em suas consequências para os sujeitos de que cuidamos.

Agora, passarmos para a próxima página para continuar refletindo sobre o que as grandes referências dessa área tem a nos orientar.