Rodgers e Cowles (1997) salientam que o enfermeiro, por vezes, não sabe o que fazer quanto ao sofrimento – ou não sabe como atuar ou ignora o cuidado. No entanto, as autoras destacam que é necessário questionar como o sofrimento é percebido e sentido pela pessoa no momento da aproximação corporal.
Quando possível (salvo questões culturais de cada ser), em relação à pessoa, é necessário focar no desenvolvimento da consciência dos sentimentos do indivíduo e seus propósitos, as ameaças a estes propósitos e o significado geral vinculado a essa experiência no contexto de todo o ser do indivíduo.
As abordagens serão permanentemente diferentes para cada pessoa. A utilização da compaixão é apontada como um modo apropriado de interagir com a pessoa que está sofrendo. Assim, o respeito e a empatia ao sofrimento humano são temas relevantes para os cuidados de enfermagem e a produção de conhecimento.
O desafio para um cuidado de enfermagem em Atenção psicossocial inicia-se por meio de um saber-fazer a partir da existência concreta do sujeito do sofrimento em que a especificidade seja o posicionamento deste sujeito em relação a sua subjetividade atravessada por conflitos. Isso marca uma ruptura para o campo da Saúde mental.
Um conceito a ser problematizado no campo da Atenção psicossocial que não substitui, mas tenta fazer um deslocamento em relação ao sofrimento psíquico, é o de transtorno mental, oriundo de um saber psiquiátrico biomédico. Nas formações discursivas desse campo, o conceito de transtorno mental tem substituído o de doença mental nas últimas décadas. A justificativa para essa substituição é a inexistência de uma base anátomo-patológica identificável dos problemas mentais, o que caracterizaria uma doença.
O termo transtorno mental associa-se, assim, a um distúrbio do funcionamento cerebral sem correlações causais etiológicas ou anatomopatológicas claras, encontradas na maioria dos outros problemas orgânicos.
A OMS adotou o conceito de que transtorno mental refere-se a problemas, sintomas e transtornos de caráter temporal ou contínuo, indicando
[...] um conjunto de sintomas clinicamente identificáveis ou comportamento associado na maioria dos casos a sofrimento e a interferência nas funções pessoais. O desvio ou conflito social por si só, sem disfunção pessoal, não deve ser incluídos no transtorno mental conforme aqui definido (OMS,1993, p. 5).
A retomada de um projeto organicista na Psiquiatria é congruente com o ordenamento socioeconômico atual, de base capitalista, e os diversos interesses que o compõem. É justamente no confronto e na disputa com tais concepções e práticas que se articula o campo da atenção psicossocial.
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