Módulo 7: Enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher e da Criança: Parto e Nascimento
Unidade 2: Avaliação materno-fetal e neonatal

Avaliação e exame físico da parturiente
Os quatros períodos do parto
Avaliação do recém-nascido
Exame físico do recém-nascido

Adaptação do recém-nascido à vida extrauterina

O termo adaptação à vida extrauterina diz respeito às modificações cardiorrespiratórias que ocorrem ao nascimento e que permitem ao recém-nascido a autonomia para exercer funções vitais fora do ambiente uterino. Tais alterações envolvem a transição da circulação fetal ou placentária para uma respiração independente. Com o clampamento e secção do cordão umbilical, o recém-nascido perde a conexão com a placenta, o que significa ausência de suporte metabólico, em especial o oxigênio, além da não retirada de dióxido de carbono de seu organismo (HOCKENBERRY, 2006; ORSHAN, 2010).

Tanto o trabalho de parto, quanto o próprio parto produzem estresse, com alterações do padrão de trocas gasosas na placenta, além do equilíbrio acidobásico no sangue e da atividade cardiovascular do recém-nascido. A adaptação à vida extrauterina será afetada por fatores que interferem tanto na transição normal desse momento da vida ou que aumentam a asfixia fetal, como por exemplo, a hipóxia, acidose e hipercapnia.

Para a oferta de um cuidado qualificado no momento do nascimento, é preciso que o enfermeiro compreenda a fisiologia pulmonar do recém-nascido e seja capaz de identificar as diferenças entre a circulação fetal e a circulação extrauterina.

Desse modo, a partir de agora iremos revisar como ocorre à circulação do feto e as alterações esperadas ao nascimento.

No útero, a placenta age como uma via circulatória de baixa resistência para a troca de gases. Nesse sentido, o sangue flui das áreas de alta pressão para as de baixa pressão. Os pulmões do feto não oxigenam os tecidos, nem excretam gás carbônico; estão cheios de líquidos (secreções oriundas do epitélio alveolar) e não de ar. Os vasos sanguíneos que fazem a perfusão dos pulmões do feto são altamente comprimidos (ORSHAN, 2010).

No coração do feto existem dois desvios que são essenciais para a circulação: o forame oval e o ducto arterioso. Ambos desviam o sangue oxigenado dos pulmões do feto até o cérebro, além de outros órgãos vitais. A existência do forame oval permite que o sangue seja bombeado diretamente do ventrículo direito para o esquerdo. Já o ducto arterioso conecta a artéria pulmonar e a aorta descendente; isso faz com que a maior parte do sangue desvie dos pulmões do feto (ORSHAN, 2010).

Um estado de vasoconstricção arterial pulmonar é mantido nos pulmões fetais. Somente uma pequena quantidade de sangue (relativamente hipóxico) chega aos pulmões; isso ajuda a manter seu estado de constrição (ORSHAN, 2010). Acresce-se o fato de os diâmetros das artérias pulmonares do feto serem menores e também com mais massa muscular do que as artérias pulmonares do adulto, o que limita o fluxo de sangue por tais artérias. Mediante o amadurecimento fetal, esses vasos sanguíneos se preparam para a vida extra útero e se tornam cada vez mais reagentes às mudanças nos níveis de oxigenação e no equilíbrio ácido básico (HOCKENBERRY, 2006; ORSHAN, 2010).

A resistência ao fluxo de sangue é diferente nos vasos sanguíneos pulmonares do feto, de modo que o sangue flui mais facilmente das áreas de alta pressão para uma de pressão mais baixa. A circulação do feto funciona de modo que a resistência vascular pulmonar (RVP) elevada nos pulmões estimule o sangue a ultrapassá-los, desviando do lado direito do coração para o esquerdo (ORSHAN, 2010). O sangue passa pelos canais de comunicação (forame oval e ducto arterioso) fluindo até a aorta do feto e retorna à placenta de baixa pressão para que ocorra a troca de gases. Essa resistência (RVP) no adulto é baixa, e permite uma circulação mais fácil do sangue das artérias pulmonares até os pulmões. No adulto, a resistência vascular sistêmica (RVS) é bastante elevada, possibilitando que a aorta distribua sangue oxigenado por todo o organismo (HOCKENBERRY, 2006; ORSHAN, 2010).

Acompanhe na animação a seguir maiores detalhes sobre este tema:

Antes do início do trabalho de parto, a produção de líquidos pulmonar do feto diminui; ocorre a liberação de catecolaminas que está associada ao trabalho de parto e pode estimular os pulmões a cessarem a secreção de líquidos. Assim, o recém-nascido não necessita retirar somente uma fração do volume original de líquido pulmonar ao nascer. Quando a mãe não vivencia o trabalho de parto e a exposição concomitante às catecolaminas, o recém-nascido tem o risco de apresentar retenção de líquidos nos pulmões e desenvolver taquipneia transitória (ORSHAN, 2010).

Clique na animação para ver mais detalhes deste importante processo.

Encerramos a transição respiratória e agora passamos a estudar o sistema circulatório. Continue!