Módulo 9: O cuidado nas urgências e emergências: cirúrgicas, ginecológicas e obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e demais agravos.
Unidade 1: Os cuidados de urgência e emergência nos quadros de abdômen agudo

Introdução, definição e etiologia
Avaliação clínica: histórico clínico e exame geral
Exame físico Abdominal
Abdômen agudo: tratamento, cuidados e intervenções de enfermagem

Inspeção, ausculta, percussão e palpação

Inspeção

Antes de inspecionar o abdômen, divida-o mentalmente em quadrantes. O mais usual é dividi-lo em quatro partes, conforme o quadro visto anteriormente (quadro 1.3).

Ausculta

• A ausculta deve preceder a percussão e a palpação para que não haja interferência na atividade e sons intestinais;
• Com este procedimento verificam-se as condições da motilidade intestinal, a presença de ruídos hidroaéreos, assim como informações sobre os vasos e órgãos que se localizam imediatamente abaixo da parede abdominal;
• Ar e líquidos movem-se devido à peristalse intestinal e produzem um som de borbulhamento suave, irregular, alternando crepitações e gorgolejos com duração de cinco a quinze segundos.

Os sons intestinais são classificados como normais, hipoativos e hiperativos, conforme podemos verificar na animação a seguir:

Ao profissional de enfermagem recomendam-se alguns cuidados especiais na execução da ausculta abdominal:

• Comprimir suavemente o diafragma do estetoscópio quando ausculta os quadrantes abdominais (ENFERMAGEM EM CUIDADOS CRÍTICOS, 2005; MORTON; FONTAINE, 2011);
• Iniciar pelo quadrante inferior direito, um pouco abaixo e à direita do umbigo (ENFERMAGEM EM CUIDADOS CRÍTICOS, 2005; MORTON; FONTAINE, 2011);
• Retirar o estetoscópio da parede abdominal cada vez que muda sua localização para evitar contraturas da musculação local;
• Auscultar cada quadrante de dois a cinco minutos, em sentido horário, antes de se certificar da ausência de ruídos;
• Em casos de paciente com sonda nasogástrica ou outro cateter, sonda ou dispositivo abdominal, clampear ou desligar a sucção, para não confundir os sons intestinais ou vasculares;
• Atentar para sopros (som de derramamento, assopro ou zumbido). Se encontrados recentemente, não realizar a percussão e a palpação e comunicar o profissional médico;
• Abdômen silencioso sugere íleo paralítico; e movimentos peristálticos hiperativos ocorrem na gastrenterite aguda (FERES; PARRA, 2008);
• Períodos de silêncio abdominal intercalados de peristalse hiperativa sugerem diagnóstico de obstrução mecânica do intestino delgado (FERES; PARRA, 2008).

Percussão

• A percussão abdominal permite determinar a dimensão e a localização dos órgãos e perceber acúmulo de líquidos e ar na cavidade abdominal. Pode, ainda, revelar dor, sugerindo irritação peritoneal;
• Ela consiste em aplicar pequenos golpes em uma área, com a extremidade do quirodáctilo, a borda da mão ou instrumento próprio;
• Deve ser anterior à palpação, ajuda na localização da dor, avaliação de timpanismo em distensão abdominal;
• Pode ser direta, utilizando uma das mãos ou os dedos, a fim de estimular diretamente a parede abdominal, ou indireta, por meio do plexímetro (usualmente o dedo médio da mão esquerda) e do plexor (usualmente o dedo médio da mão direita).

Confira na animação a seguir como proceder para efetuar a percussão.

A percussão abdominal deve ser suspensa quando há defesa abdominal, interrogação de apendicite, aneurisma de aorta abdominal, rins policísticos ou transplante abdominal (ENFERMAGEM EM CUIDADOS CRÍTICOS, 2005; MORTON; FONTAINE, 2011; SALLUN; PATANHOS, 2007; FERES; PARRA, 2008).

Palpação

A palpação pode ser considerada a etapa do exame físico que fornece maiores informações diagnósticas abdominais. É realizada para avaliar a parede abdominal em relação ao tamanho, às condições e à consistência dos órgãos, à presença de massas, à localização e à avaliação da dor local. Devem ser observados os seguintes cuidados:

• As mãos devem estar aquecidas e recomenda-se palpar de maneira delicada, evitando inicialmente as regiões mais doloridas;
• Os quadrantes devem ser palpados em sentido horário, reservando para o final do exame aquelas áreas previamente mencionadas como dolorosas ou sensíveis.

• A palpação superficial é realizada com os dedos de uma das mãos estendidos, fechados entre si, com a palma da mão e o antebraço em plano horizontal. A superfície abdominal é pressionada suavemente, aproximadamente um a dois centímetros, evitando movimentos súbitos (ENFERMAGEM EM CUIDADOS CRÍTICOS, 2005; MORTON; FONTAINE, 2011; SALLUN; PATANHOS, 2007).
• A palpação profunda é empregada para delimitar os órgãos abdominais e localizar massas pouco evidentes. Com respiração oral, pressiona-se a parede abdominal do paciente de forma profunda a cada expiração. Devem ser utilizadas as pontas dos dedos de ambas as mãos, pressionando a parede abdominal aproximadamente 3,5 cm, movendo circularmente, de modo que a parede abdominal também se movimente sobre as estruturas subjacentes. Estas manobras permitem perceber tamanho, forma, consistência, localização, sensibilidade e mobilidade de órgãos ou massas (ENFERMAGEM EM CUIDADOS CRÍTICOS, 2005; MORTON; FONTAINE, 2011; SALLUN; PATANHOS, 2007; FERES; PARRA, 2008).

Em pacientes com processos inflamatórios ou infecciosos, a dor pode ser intensificada na palpação, assim como na descompressão abdominal abrupta.

Vejamos os sinais propedêuticos do abdômen agudo na página a seguir.