Módulo 9: Projeto Terapêutico Singular Na Clínica Da Atenção Psicossocial
Unidade 1: Projeto Terapêutico Singular como ordenador do cuidado na Rede de Atenção Psicossocial

Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Diagnóstico em Atenção Psicossocial: análise crítica de seu papel no projeto terapêutico

Construção do PTS

A utilização de um roteiro, com momentos definidos, constitui apenas um auxílio à equipe. O diagnóstico situacional irá auxiliar na definição de hipóteses diagnósticas, na definição das metas em conjunto com o usuário do serviço e sua família e, por fim, na responsabilização de cada um no PTS, com avaliações e reavaliações periódicas (BOCCARDO et al., 2011).

O foco da construção e desenvolvimento do PTS deve ser o usuário em sua singularidade, e esse processo deve contemplar ainda a participação da família e da rede social desses sujeitos (BOCCARDO et al., 2011).

Vejamos a seguir os quatro momentos da construção do PTS.

Definição de hipóteses diagnósticas

A leitura da Política Nacional de Humanização reforça que

[...] neste momento a avaliação orgânica, psicológica e social do paciente deve ocorrer, possibilitando uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do indivíduo. O conceito de vulnerabilidade (psicológica, orgânica e social) é muito importante e deve ser valorizado na discussão (BRASIL, 2009b, p.41).
Sendo assim, é preciso reconhecer que uma situação problemática implica na participação ativa do usuário, embora normalmente seja entendida de forma unilateral, como responsabilidade apenas da equipe de saúde. Essa concepção
se deve, em parte, à tradição que faz a delimitação dos problemas de saúde a partir da expertise da equipe que se assume como detentora do saber “científico”. Todavia, se essa expertise produz na equipe um olhar “armado” para a detecção e para o enfrentamento de problemas de saúde, quando esse mesmo olhar é colocado como o único capaz de explicar e atuar no seu contexto de vida, muitas vezes provoca no(s) usuário(s) movimentos ora de resistência, ora de submissão, dificultando a formação de compromisso com o processo terapêutico e a produção de autonomia(Brasil, 2010, p. 95).
Observe a animação a seguir:

Definição de metas

O segundo momento, não menos complexo, trata da definição de metas, ou seja, do planejamento das intervenções no PTS. Apresenta o desafio de conciliar as práticas de planejamento, ao mesmo tempo em que estimula a participação ativa dos profissionais e pacientes envolvidos (BRASIL, 2010). Uma vez que a equipe tenha realizado os diagnósticos, ela faz propostas de curto, médio e longo prazo, que serão negociadas com o usuário pelo membro da equipe que apresentar maior vínculo.

Considerando-se esse movimento na construção do PTS, de acordo o disposto no caderno do HumanizaSUS, podemos afirmar que

a forma mais coerente de trabalho em equipe seria aquela na qual o espaço coletivo de discussão busca articular ao campo (da saúde, do cuidado, do trabalho, da clínica ampliada, etc.) os diferentes núcleos profissionais, com seus saberes e práticas específicas, diferentes formas de ver a problemática em questão, compondo hipóteses explicativas compartilhadas, mas não necessariamente únicas, permitindo à equipe, na sua relação com o(s) usuários(s) a composição de estratégias conjuntas de intervenção, com maior chance de sucesso e menor possibilidade de dano (BRASIL, 2010, p. 97).