Módulo 9: Projeto Terapêutico Singular Na Clínica Da Atenção Psicossocial
Unidade 1: Projeto Terapêutico Singular como ordenador do cuidado na Rede de Atenção Psicossocial

Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Diagnóstico em Atenção Psicossocial: análise crítica de seu papel no projeto terapêutico

Objetivos e Construção do PTS

A equipe, em situações nas quais consegue perceber seus limites e suas dificuldades, pode solicitar auxílio à Equipe de Apoio Matricial. Esse espaço permite a troca de experiências e aprendizado para os apoiadores matriciais, que também experimentarão aplicar seus saberes em uma condição complexa, recheada de variáveis com as quais nem sempre o recorte de uma especialidade está acostumado a lidar. O encontro é mais produtivo quando há, de fato, uma articulação entre as Equipes de Referência e as de Apoio Matricial na rede de atenção. Além disso, quando existe um interesse sobre determinado tema, a capacidade de aprendizado é maior. Portanto, esse é, potencialmente, um excelente espaço de educação permanente (BRASIL, 2009b; BRASIL, 2010).

Objetivos

Considerando o conceito de PTS, é preciso que compreendamos quais os objetivos desse processo. Para que eles sejam atingidos, devemos atentar para determinados pontos durante seu desenvolvimento.

De modo geral, observou-se que esses aspectos estão relacionados aos campos da habitação, do trabalho e das trocas sociais, os quais requerem articulações práticas das redes de suporte social para amparar e potencializar as ações voltadas à pessoa em sofrimento (BARROS, 2009).

De acordo com a Política Nacional de Saúde Mental, é recomendado direcionar o PTS para o processo de reinserção social do usuário através de ações que envolvam a educação, o esporte, a cultura, o lazer e outros. Ressalta-se ainda que essas ações devem ser desenvolvidas de acordo com as necessidades e possibilidades de cada usuário, de forma que ultrapassem a estrutura física dos serviços de saúde. Além disso, é importante a articulação dos serviços da Rede com o oferecimento de suporte social aos pacientes, contribuindo para o restabelecimento de vínculos fragilizados ou perdidos ao longo do processo de adoecimento (BRASIL, 2004a).

Diante do exposto, entende-se que:

O Projeto Terapêutico Singular tem como objetivo traçar uma estratégia de intervenção para o usuário, considerando os recursos disponíveis pela equipe, o território a que pertence sua família e as suas próprias necessidades (ONOCKO; GAMA, 2008).

O PTS possibilita planejar, desenvolver e avaliar o cuidado na continuidade da vida dos pacientes, auxiliando no reestabelecimento das relações sociais e estimulando a autonomia, e pode ser estendido para além dos momentos de crise, ou atuar somente nos momentos de remissão de sintomas ou ideais de cura.

Construção do PTS

A construção do PTS corresponde a um processo estratégico que articula usuários, famílias, profissionais da equipe de saúde do serviço e redes sociais na determinação das prioridades, necessidades e possibilidades de ações que contribuam para a efetividade do cuidado. E todos, neste processo, são agentes autônomos e protagonistas na construção e manutenção contínua e sustentável do PTS (MÂNGIA, 2002; MÂNGIA; MURAMOTO, 2007; BOCCARDO et al., 2011).

De acordo com Mângia et al. (2006) e Boccardo et al. (2011), a adoção de alguns eixos norteadores é fundamental para essa construção. São eles:

  • Centralidade na pessoa;
  • Considerar o contexto e necessidade do usuário;
  • Parceria entre equipe e usuário;
  • Flexibilibilizar às mudanças de cada momento de vida;
  • Reavaliar periodicamente;
  • Articular os recursos do território nas ações executadas;
  • Construção compartilhada e a definição de metas com duração previamente acordada.
Veja na animação a seguir o que devemos considerar nesse processo.

E assim, este processo pode também favorecer o reconhecimento dos limites próprios a cada realidade, o que constitui procedimento fundamental para a identificação de possibilidades e planejamento de intervenções mais eficazes (BRASIL, 2009b). Vale a pena reforçar que é durante a construção, acompanhamento e avaliação do PTS o momento em que podemos considerar os diferentes trabalhos realizados no grupo, a sua relevância e a valorização dos diferentes profissionais atuantes (BRASIL, 2009b). Isso porque é nessa construção, nesse processo, que se evidencia a interdependência entre os integrantes da equipe do serviço de saúde e equipe de apoio matricial, num espaço de trocas, rico em experiências e variáveis, imersas em condições muitas vezes complexas, limitado, portanto, quando realizado de modo isolado sob o foco de apenas um profissional ou especialidade (BRASIL, 2009b).

Na construção do PTS, podemos ressaltar quatro momentos importantes (BRASIL, 2009b):
  • Definição de hipóteses diagnósticas
  • Definição metas
  • Divisão de responsabilidades
  • Avaliação e reavaliação

Porém, apesar de importantes, esses momentos não devem se limitar à definição de protocolos rígidos na construção do PTS, uma vez que normatizações podem dificultar a singularidade que é característica de sua construção (OLIVEIRA, 2007).