Em 1973, porém, com a primeira crise internacional do petróleo, os países capitalistas dependentes sofreram sérias consequências e se deu a primeira grande crise do governo militar brasileiro. Em função disso, parte desse governo começa a procurar outras saídas, inclusive para o modelo de saúde, e busca ajuda nos setores até então proibidos de falar. A própria Escola Superior de Guerra (ESG) – a base da “inteligência” militar– denuncia a diminuição das condições de saúde dos candidatos ao serviço militar. Afirmava que nesses 10 anos tinham aumentado o número de cáries e o percentual de verminoses nos brasileiros, a altura média tinha diminuído, além de terem eclodido epidemias até então relativamente sob controle, como malária, esquistossomose, doença de Chagas e febre amarela, em função da diminuição extrema de recursos para medidas preventivas do Ministério da Saúde.
Esse quadro de difíceis condições materiais de existência propicia que surjam os movimentos contra a própria ditadura militar. Na área da saúde surge, então, a contra-hegemonia ao modelo flexneriano e ao modelo unicausal. Começava a luta contra o complexo médico-industrial, que defendia um sistema hierarquizado de saúde no qual práticas curativas e preventivas estivessem dentro de um comando único ministerial.
A intenção desta unidade é caracterizar as políticas públicas de saúde no Brasil da década de 1960-1970 como uma proposta positivista, unicausal, flexneriana e voltada para os interesses do capital, sustentadas por uma ditadura militar e em confronto com novas forças nascentes a partir da década de 1970, como vamos caracterizar a seguir.

Verdi, Da Ros, Cutolo e Souza