É no acolhimento da demanda espontânea ou agendada que o usuário é recebido por um ou mais profissionais do serviço de saúde. Nesse dispositivo, através da escuta, procura-se analisar a queixa e suas possíveis demandas, avaliar o risco e propiciar uma atenção integral, resolutiva e responsável (BRASIL, 2005). O acolhimento é também uma das estratégias que possibilitam maior aproximação com o usuário e o início do vínculo ao profissional que o realiza.
Abrimos um espaço para uma reflexão sobre a importância e a forma de acolhimento. Acompanhe na animação o que podemos extrair como experiências:
Vale lembrar que é fundamental que o profissional esteja em condições de acolher o usuário em seu sofrimento e escutá-lo atentamente em suas dificuldades e singularidades. Além de paciência e respeito, o profissional necessita perceber o processo de entrevista, de maneira a estimular a fala, manifestar-se ou estabelecer limites aos usuários, assegurando o contexto da entrevista. Por exemplo, às vezes, uma entrevista bem conduzida é aquela na qual o profissional fala pouco e escuta pacientemente a pessoa em sofrimento. Outras vezes, o usuário e a situação exigem que o entrevistador seja mais ativo, participante, falando mais, fazendo perguntas, intervindo mais frequentemente. Isso varia em função da personalidade do usuário, do contexto em que a situação ocorre, dos objetivos da entrevista e da personalidade do entrevistador (DALGALARRONDO, 2008).
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Destacamos que as variáveis do ambiente onde a interação é conduzida também interferem, como, por exemplo, o local, a duração, a disposição espacial dos participantes e as condições de privacidade. O conhecimento dessas variáveis e o preparo técnico do entrevistador contribuem para que ele estimule a comunicação do entrevistado com um mínimo de interferência (ZUARDI; LOUREIRO, 1996).
Assim, entendemos que o diagnóstico permite a organização de grupos de pessoas com problemas semelhantes, mas jamais iguais. Para Saraceno, Asioli e Tognoni (1994), o diagnóstico viabiliza a estratégia de intervenção e informa sobre o desenvolvimento da enfermidade, mas não por si só, conforme o quadro apresentado a seguir:
Quadro 1.1: O papel do diagnóstico no atendimento em saúde mental.
Fonte: Saraceno; Asioli; Tognoni (1994, p. 13).
As pessoas (que) em sofrimento podem ser/estar desorganizadas subjetivamente, devem ser escutadas de forma aberta, permitindo que falem e se expressem de maneira mais fluente e espontânea, contando sua história.
Para Saraceno, Asioli e Tognoni (1994), as variáveis extraclínicas ampliam o conceito de diagnóstico em saúde mental. Por exemplo, a resposta ao medicamento não depende somente de um diagnóstico descritivo de esquizofrenia, mas também do contexto familiar da pessoa, ou seja, a família pode oferecer mais informações sobre a intervenção do que o próprio diagnóstico. Outras variáveis são os contextos social, econômico e cultural, os quais podem informar mais do que o diagnóstico em si.
Para se estabelecer o diagnóstico, levam-se em consideração os sintomas, a relação familiar, onde e com quem mora, os amigos, renda financeira, trabalho, contribuição previdenciária, espiritualidade, ou seja, deve-se conhecer o contexto que há por trás dos sintomas. Um processo individual de cuidado deve levar em conta também o itinerário terapêutico do usuário, com os diversos espaços terapêuticos comunitários e pontos de atenção formais por onde ele circula. O cuidado produzido em rede, composta por diversos pontos de atenção, implica em um processo de acesso, acolhimento e acompanhamento transversais a toda e qualquer ação em saúde mental.
Conforme o quadro a seguir, estão dentre os indicadores que contribuem para a ampliação de um diagnóstico e intervenção: a) recursos individuais da pessoa; b) recursos do contexto da pessoa; c) recursos do serviço que acolhe; d) recursos do contexto da Rede de Atenção:
Quadro 1.2: Condições para estabelecer uma intervenção em saúde mental.
Fonte: Saraceno; Asioli; Tognoni (1994, p. 23).
Os recursos individuais são indicadores para estabelecer estratégias de cuidado, como, por exemplo, a capacidade intelectual, o grau de informação do usuário, seu status social, a condição de solidão ou não e sua condição de gênero. Esses indicadores contribuem para se pensar em qual intervenção poderá ser mais eficaz.
Os recursos contextuais do usuário referem-se ao meio em que ele está envolvido, como a família, a relação com os vizinhos, como participa e utiliza equipamentos do bairro em que mora.
Os recursos do serviço significam de que forma o processo de trabalho está organizado para acolher e responder às demandas que chegam à instituição, o acesso ao serviço, o fluxo de atendimento, os recursos materiais, como salas, medicamentos, recursos humanos, a organização da equipe de trabalho, os modelos de gestão que operam na organização da equipe interdisciplinar.
Os recursos do contexto do serviço compreendem sua organização em rede, as pactuações e a clareza e capacidade de expressar a política de saúde mental local e global (SARACENO; ASIOLI; TOGNONI, 1994).
Salientamos que pessoas com mesmos diagnósticos desenvolvem diferentes evoluções e resultados, bem como pessoas que usam o mesmo medicamento para um mesmo diagnóstico apresentam resultados diferentes.
O diagnóstico auxilia na terapia farmacológica, mas não contribui para estabelecer intervenções mais complexas e articuladas, pois estamos tratando de seres humanos, históricos e complexos (SARACENO; ASIOLI; TOGNONI, 1994).
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Acompanhe na próxima página a continuidade deste tema. O campo de cuidados da psicossocial.