Módulo 8: Clínica da Atenção Psicossocial
Unidade 1: Psicopatologia dos transtornos mentais

Psicopatologia do sofrimento psíquico e dos transtornos mentais
Diagnósticos no contexto da Reforma Psiquiátrica
Acolhimento e diagnóstico ampliado no campo da atenção psicossocial
A contribuição do exame do estado psíquico às síndromes psicossociais
Principais síndromes na prática clínica

O cuidado na atenção psicossocial

O campo dos cuidados engloba um conjunto de dispositivos e iniciativas ligados ao agenciamento da vida naquilo que está sendo impedido ou prejudicado pela psicose ou outro tipo de sofrimento psíquico. É necessário intermediar para e com a pessoa os impasses de seu cotidiano, construir projetos de vida compartilhadamente com a Rede de Atenção Psicossocial (TENÓRIO; ROCHA, 2006).

Na prática, o cuidado na atenção psicossocial implica em construção de um processo diagnóstico, de uma responsabilidade conjunta da equipe, de acompanhamento coletivo dos casos e avaliações permanentes das ações realizadas com as pessoas sob cuidado no território.

Apresentaremos a seguir estratégias de intervenção a partir do diagnóstico baseado em Saraceno, Asioli e Tognoni (1994), conforme o quadro a seguir:

Quadro 1.3: Estratégias de intervenção em saúde mental.

Fonte: Saraceno; Asioli; Tognoni (1994, p. 24).

A intervenção e o cuidado em saúde mental materializam-se no projeto terapêutico do usuário, que é planejado a partir de sua história e necessidade com a equipe interdisciplinar. O projeto parte de atividades que o serviço propõe, como atendimentos individuais através de consulta de enfermagem; psicoterapia; atendimento com médico; atividades em grupo; atividades de geração e renda; participação em associação de usuários, entre outros.

Todavia, é importante ter clareza de que as atividades ofertadas pelo serviço conseguem corresponder à necessidade do usuário, para pensar atividades compatíveis a cada caso. Assim, a intersetorialidade e o acompanhamento terapêutico são recursos valiosos para ampliar projetos e valorizar cada pessoa em sua singularidade.

Compartilhando
Os objetivos das intervenções devem valorizar e incluir a pessoa na prestação das informações sobre si, ainda que com um discurso fragmentado, em relação a sua família, trabalho, renda, entre outros.

Considerando que, para lidar com pessoas com problemas de saúde mental, diversos recursos precisam ser efetivados, lembramos que o diagnóstico é importante para a definição do recurso psicofarmacológico. Atualmente, está disponível na Rede uma gama de medicamentos antipsicóticos, estabilizadores de humor, antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos (SARACENO; ASIOLI; TOGNONI, 1994).

Outros recursos não farmacológicos são fundamentais e eles se relacionam a atitudes que podem ser estimuladas nos trabalhadores da área da Saúde. Dentre algumas atitudes psicoterapêuticas que favorecem o acolhimento, a demonstração de empatia e o interesse pela pessoa em sofrimento, sugerimos, baseados também em Saraceno, Asioli e Tognoni (1994) e Tófoli, Pereira e Sampaio (2002):

  • Uma postura de respeito e disponibilidade para uma escuta atenta, deixando a pessoa falar. Assuntar, portanto, configura- se atitude respeitosa diante do paciente e seu sofrimento.
  • Com relação às próprias crenças e valores, não relativizá-los, de maneira a não utilizá-los como parâmetros para julgar, influenciar ou direcionar o processo terapêutico.
  • A oferta de um ambiente tranquilo e privativo para a conversa, garantindo o sigilo da mesma.
  • O estabelecimento de uma comunicação culturalmente sensível, que seja compreensível conforme o meio social, o nível de escolaridade e o nível intelectual da pessoa.
  • A averiguação de como a pessoa gostaria de ser chamada, de maneira a evitar apelidos pejorativos.
  • A manutenção de contato visual com a pessoa, sempre que possível.
  • A observação da comunicação não verbal e a coerência ou não desta com a comunicação verbal (tanto da pessoa, quanto do próprio profissional).
  • A não adoção de atitudes autoritárias e críticas.
  • A evitação de aconselhamento à pessoa, dizendo o que ela deveria ou não fazer.
  • O estímulo de atividades de socialização e de autonomia que favoreçam o autocuidado, as atividades de vida diária e maior contratualidade na vida da pessoa.
  • A explicação dos sentimentos que os sintomas geram na pessoa.
  • Caso a pessoa apresente sintomas psicóticos, tentar não confrontar as ideias delirantes tentando provar a falta de nexo de seus delírios.
  • Em quadros psicóticos é importante lembrar de compreender os delírios e as alucinações da pessoa, deixando-a falar sobre os mesmos sem reforçá-los.
  • A lembrança de considerar a possível relação de queixas psicológicas e alterações fisiológicas, avaliando criteriosamente a pessoa, sem menosprezar queixas somáticas sem correspondência orgânica.

Você acompanhou neste estudo detalhes importantes sobre o cuidado na atenção psicossocial e sua aplicação ao cuidado e acolhimento junto ao usuário do sistema de saúde.