Módulo 8: Clínica da Atenção Psicossocial
Unidade 1: Psicopatologia dos transtornos mentais

Psicopatologia do sofrimento psíquico e dos transtornos mentais
Diagnósticos no contexto da Reforma Psiquiátrica
Acolhimento e diagnóstico ampliado no campo da atenção psicossocial
A contribuição do exame do estado psíquico às síndromes psicossociais
Principais síndromes na prática clínica

Síndromes relacionadas a substâncias psicoativas e Síndromes mentais e orgânicas

Certo nível de ansiedade pode ser considerado normal, pois estimula a iniciativa e não atrapalha o cotidiano da pessoa. Quando o nível de ansiedade aumenta, pode atrapalhar o seu cotidiano e o relacionamento com outras pessoas; aí, a ansiedade pode ser patológica.

As classificações diagnósticas utilizam critérios ligados à intensidade, frequência e duração dos sintomas para estabelecer pontos de corte entre a ansiedade normal e a patológica. A ansiedade se caracteriza por:

a) sintomas físicos: dor de cabeça, tremores, tensão muscular, movimentos inquietos;

b) hiperatividade autonômica: sudorese, taquicardia, taquipneia, desconforto epigástrico, tonturas, boca seca;

c) sintomas psíquicos: apreensão, preocupações sobre desgraças futuras, dificuldade de concentração, sensação de estar no limite.

No caso de haver sintomas de somatização, sugere-se: reconhecer que os sintomas físicos são reais; demonstrar interesse em ajudar a pessoa e interessar-se em saber o que pode estar acontecendo sem reforçar os sintomas; averiguar junto à pessoa sobre o que ela acha que está causando essa situação (OMS, 1998).

• Síndromes relacionadas a substâncias psicoativas

O uso e abuso de substâncias psicoativas (SPAs) caracterizam-se pela forma singular da relação entre os seres humanos com as próprias substâncias ao longo da história. As SPAs são substâncias químicas que, quando ingeridas, alteram as funções do sistema nervoso central e produzem reações físicas e psíquicas. Entre as SPAs, estão: o álcool, o crack, a cocaína, a maconha, a nicotina, a heroína, entre outros.

Um estudo aprofundado sobre a clínica das substâncias psicoativas faremos na sequencia.

As principais queixas da pessoa que vivencia o uso abusivo de SPAs são: alterações no humor (deprimido ou eufórico); nervosismo; ficar insone; complicações físicas (gastrite, doença hepática e outras); problemas conjugais e familiares; faltas ao trabalho; situações de risco (acidentes de trânsito, entre outros). É frequentemente possível que pessoas com problemas relacionados ao abuso ou dependência de SPAs neguem o próprio uso ou as dificuldades decorrentes desse uso (OMS, 1998).

As recomendações envolvem acolhimento e utilização de estratégias de redução de danos. Deve-se evitar indicar a parada no uso da substância (abstinência) como imposição para o tratamento. A abstinência até pode ser uma meta, desde que seja a opção da pessoa em tratamento. O tratamento inclui também a elaboração de estratégias para minimizar o sofrimento, a identificação de fatores estressantes, o envolvimento de familiares e pessoas de apoio, entre outros aspectos (OMS, 1998).

• Síndromes mentais e orgânicas

As síndromes demenciais e confusionais agudas, como as demências e o delirium formam o quadro das síndromes cuja etiologia é orgânica. Nessas, encontram-se alteradas especialmente as funções cognitivas, como consciência, orientação, memória e atenção (DALGALARRONDO, 2008).

No delirium ou síndrome confusional aguda há instalação aguda de sintomas caracterizados por quadro de agitação e confusão psíquica. Observam-se: déficit de memória, instabilidade emocional, perda de orientação, alucinações visuais ou aditivas, sensação de desconfiança e sono perturbado, entre outros (OMS, 1998).

Dentre as recomendações básicas, estão: avaliação de risco de auto e/ou heteroagressão e orientações à família para contribuir com a redução da confusão psíquica. Caso haja necessidade de internação, o assunto deve ser discutido com os envolvidos (OMS, 1998).

Nas síndromes demenciais, observa-se perda de múltiplas habilidades cognitivas e funcionais, dentre as quais destacamos: memória, linguagem, alteração de personalidade e consciência, entre outros (DALGALARRONDO, 2008).

As pessoas apresentam lapsos de memória, esquecimento e podem sentir-se deprimidas. Pode haver alteração do comportamento e higiene pessoal deficitária. Os aspectos diagnósticos envolvem déficit de memória recente, alteração no pensamento, orientação e linguagem. Pode observar-se declínio no funcionamento cotidiano, como vestir-se, banhar-se, alimentar-se. Podem surgir certa apatia ou irritabilidade, choros, entre outros (OMS, 1998).

Dentre as recomendações, estão: o monitoramento da capacidade de desempenho das tarefas domésticas com segurança; a utilização de estratégias que auxiliam na preservação da memória; evitar inserir a pessoa em espaços não familiares; e reduzir estressores psicossociais. Os grupos de ajuda mútua que favorecem a troca de experiências fortalecem as pessoas envolvidas (OMS, 1998).

A consulta de enfermagem

A consulta de enfermagem objetiva conhecer o usuário e seu acompanhante juntamente com suas demandas de cuidado para a formulação do diagnóstico de enfermagem a fim de poder pensar e propor um projeto terapêutico singular que será discutido e ampliado com os demais membros da equipe. No estabelecimento de um processo de diagnóstico, de cuidado e intervenção, é necessário “ocupar-se” da pessoa, de sua experiência-sofrimento, avaliar seus recursos e construir com ela e a família um projeto de vida que seja acompanhado pela equipe e em Rede.

A consulta de enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, trata-se de uma importante ferramenta para fortalecer o vínculo usuário/enfermeiro/família no processo de cuidar (COFEN, 2009). Além disso, a consulta de enfermagem é um momento em que o enfermeiro pode exercitar uma perspectiva de clínica ampliada e consolidar sua assistência segundo os princípios do SUS.

Palavra de Profissional
Considerando-se que a consulta de enfermagem está baseada em método científico, é importante lembrar que ela precisa conter todas as etapas, ou seja, entrevista, exame físico, diagnóstico de enfermagem, prescrição, implementação da assistência e evolução de enfermagem.

Neste estudo, abordamos as principais síndromes psicossociais mais recorrentes da prática, as formas de intervenção e os cuidados necessários em saúde mental e enfermagem, bem com os cuidados na consulta de enfermagem.