Processo de Trabalho na Atenção Básica

As Ferramentas Tecnológicas do Trabalho do NASF

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Apoio Matricial

O Apoio Matricial é a principal ferramenta tecnológica no trabalho do NASF por apresentar tanto ações assistenciais diretas quanto ações técnico-pedagógicas, como a elaboração de materiais de apoio, a discussão de casos, os atendimentos conjuntos, dentre outros. Ao realizar matriciamento, a equipe do NASF utiliza as informações da equipe da ESF, buscando sua qualificação para a oferta de apoio às equipes vinculadas.

A utilização da matriz no campo da saúde já havia sido sugerida por alguns autores da administração, em especial ligados à teoria contigencial e ao estruturalismo, para assegurar integração entre as distintas profissões no trabalho em saúde. No entanto, esse uso caracterizava-se por encontros episódicos entre as distintas profissões para a realização de reuniões, programas, projetos, sem necessariamente alterar o desenho tradicional dos departamentos estanques (CAMPOS, 2000).

A matriz, sugerida pela administração, de modo geral intentava opor-se à estrutura burocrática das organizações. Mas, com ela, de fato "[...] os departamentos convencionais continuam a existir, servindo inclusive de estoque de especialistas para diversos projetos, [...]. Terminando o projeto, o pessoal retorna aos seus departamentos, onde desempenha atividades preestabelecidas, participa de programas de treinamentos e espera novas designações" (LODI apud MOTTA; VASCONCELOS, 2008, p.262).

Em suma, equipes de referência e de apoio matricial nasceram, portanto, ao mesmo tempo como um arranjo de organização e como uma metodologia de gestão dos serviços de saúde para transpor a “racionalidade gerencial tradicionalmente verticalizada, compartimentalizada e produtora de processo de trabalho fragmentado e alienante para o trabalhador” (BRASIL, 2010). Em geral, essa lógica verticalizada é imposta por sistemas de poder que tendem a determinar um processo de trabalho focado em procedimentos nos quais não há espaço para o comprometimento dos trabalhadores com os usuários no que se refere à produção de saúde.

É necessário lembrarmos que a proposta de organização dos serviços por meio das equipes de referência e de apoio matricial é extensiva aos diversos serviços e níveis de assistência, ou seja, é extensiva aos hospitais, aos centros de referência, aos prontos-atendimentos e à Atenção Básica.

Para aqueles defensores do SUS, como Emerson Merhy (1997, p.199)*, é exatamente toda essa complexidade da Atenção Básica de Saúde que permite que ela seja um campo fecundo para a criação e a experimentação de novas estratégias que permitam a produção de saúde, pois a Atenção Básica “apresenta a possibilidade de menor aprisionamento de suas práticas a um processo de trabalho médico restrito, ou mesmo circunscrito no tempo e no evento”.

MERHY, E. Em busca do tempo perdido: a micro política do trabalho vivo em saúde. In: MERHY, E.; ONOCKO, R. (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 71-112. (Saúde em Debate, 108; Série Didática, 6).

Para uma melhor compreensão, a equipe de referência, como o próprio nome já diz, deve ser referência para determinada população, ampliando, assim, o vínculo com essa. Ela deve ser constituída por um conjunto de trabalhadores de distintas áreas, considerados essenciais para a condução dos problemas de saúde apresentados por essa população (CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Lacerda e Moretti-Pires

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