Processo de Trabalho na Atenção Básica

As Ferramentas Tecnológicas do Trabalho do NASF

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Apoio Matricial

No que concerne ao seu propósito, a equipe de referência deve se responsabilizar efetivamente pelos usuários, tendo-os como centro do seu processo de trabalho. Sabe-se que o usuário, muitas vezes, não é visto “totalmente” pelos serviços de saúde, mas como uma “parte”; porém, não há quem “junte as partes” (STARFIELD, 2002) analisadas pelos distintos profissionais. Dessa forma, a equipe de referência deve superar essa tendência.

Sendo a equipe de referência a responsável pela condução dos casos – individuais ou coletivos, clínicos ou sanitários – apresentados pela população adscrita, tal responsabilidade deve incluir o acionamento da rede complementar quando necessário. Essa rede pode ser constituída de inúmeras formas, inclusive contar com trabalhadores que realizam Apoio Matricial.

Em resumo, a equipe de referência é um modo de organização do trabalho em saúde que busca redefinir o poder de gestão e de condução de casos, geralmente fragmentado entre especialidades e profissões de saúde, concentrando-o em uma equipe interdisciplinar (CUNHA, 2004).

O Apoio Matricial em saúde, por sua vez, trata-se de uma metodologia de gestão de trabalho complementar à definição de equipes de referência, inscrita na lógica das unidades de produção, como “coletivos organizados em torno de um objeto comum de trabalho” (CAMPOS, 2003).

Entendemos por coletivo o "agenciamento de modos de subjetivação que se expressam na intensidade dos encontros nos diferentes espaços de intervenção [...] buscando a produção do comum". O comum emerge "no regime das diferenças, não propriamente a partir do que 'temos em comum', do que nos iguala e serializa" (OLIVEIRA, 2011, p. 37).

Portanto, o Apoio Matricial deve ser acionado de acordo com as necessidades de cada indivíduo, família ou grupo. O conjunto de profissionais responsável por prestar tal apoio não necessariamente tem uma relação direta com esses atores, mas deve oferecer suporte às Equipes de Saúde da Família ou às Equipes de Atenção Básica através de diferentes estratégias interdisciplinares, considerando-se as duas dimensões do Apoio Matricial: técnico-pedagógica e assistencial.

Na Prática:

Os limites entre o que seria conhecimento nuclear e conhecimento comum são bastante tênues e variáveis de acordo com as necessidades de cada equipe vinculada (BRASIL, 2010). Por exemplo, uma equipe que lidasse com grande número de idosos portadores de doenças crônicas não transmissíveis possivelmente necessitaria de maior suporte de um nutricionista para o cuidado direcionado ao manejo dietético nessas condições; por outro lado, ao realizar apoio a outra equipe inserida em um contexto importante de vulnerabilidade social com violação do direito humano à alimentação adequada, esse mesmo nutricionista precisaria oferecer conhecimentos diferentes para serem utilizados por essa equipe.

Portanto, baseando-se na priorização de ações compartilhadas e interdisciplinares, com trocas de saberes, corresponsabilização e responsabilidades mútuas mediante a utilização de amplas tecnologias, o Apoio Matricial à Equipe de Saúde da Família ou à Equipe de Atenção Básica deve possibilitar que essa equipe se mantenha responsável pelo cuidado, qualificando-o.

Lacerda e Moretti-Pires

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