Processo de Trabalho na Atenção Básica

As Ferramentas Tecnológicas do Trabalho do NASF

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Apoio Matricial

Esse modo de operar, que coloca os profissionais de saúde diante de um novo modelo de produção de cuidado, com novas possibilidades e ferramentas para a construção de uma relação interdisciplinar na saúde, nem sempre é uma tarefa fácil.

Pode-se, ainda, discutir sobre os diferentes entendimentos sobre os modos de cuidar que podem influenciar na maneira como são operacionalizados os processos de trabalho dos profissionais do NASF. Parece ser comum que os profissionais que o compõem sofram pressão por parte da gestão de saúde, dos usuários e até mesmo dos profissionais das equipes de saúde vinculadas por produção numérica de atendimentos individuais. Essa é uma lógica de atuação divergente daquela que vimos colocando até então, caracterizando o NASF como um serviço ambulatorial de especialistas e generalistas inseridos na Atenção Básica, mas não incluídos na Equipe mínima de Saúde da Família.

Síntese das ideias vinculadas ao Apoio Matricial
Apoio das temáticas do NASF e respectivos focos de atuação junto à ESF
Fonte: BRASIL, 2010.

Por fim, a concepção do NASF como núcleo de especialistas inserido na Atenção Básica, em vez da compreensão dele como equipe de apoio para a qualificação da Atenção Básica, pode reduzir o potencial de transformação das práticas em saúde e de concretização de mudanças na realidade sanitária local a partir do suporte matricial.

Saiba Mais:

Acesse este artigo: CAMPOS, G.W.S.; DOMITTI, A.C. Apoio Matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, v. 23, n.2, p. 399-407, fev. 2007. Disponível aqui. Acesso em: 10 mar. 2012.

Mas vamos refletir sobre as palavras, o sentido dos termos aqui discutidos: Apoio Matricial.

A composição dos sentidos de matriz e de apoio no termo “Apoio Matricial” indica-nos uma possibilidade de se alterarem a forma vertical de relação entre os trabalhadores nas organizações de saúde e a diferença entre os que pensam e os que executam, admitindo, assim, que todos são capazes.

Um dos intuitos do Apoio Matricial é romper a lógica tradicional dos encaminhamentos. É importante ressaltar que no trabalho organizado, a partir das equipes de referência e de apoio matricial, a posição do especialista em relação ao trabalhador que demanda seu apoio se altera. Em sistemas hierarquizados de saúde em que os trabalhadores da Atenção Básica encaminham os casos para o nível secundário e assim sucessivamente, os especialistas ocupam lugar de destaque na famosa pirâmide dos níveis de assistência, estabelecendo, assim, uma diferença de poder entre quem referencia um caso e quem o recebe. Nessa circunstância, ou seja, ao encaminhar um caso, a responsabilidade pela sua condução também é transferida (CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Com o trabalho organizado com a lógica do Apoio Matricial, não há transferência, ao contrário, o usuário não é mais referenciado ou encaminhado para um serviço especializado, mas sim compartilhado, sendo a responsabilidade pela condução do caso da equipe de referência (CAMPOS, 1999).

Campos e Domitti (2007) ressaltam que o trabalhador que realiza o Apoio Matricial possui um núcleo de conhecimento distinto daqueles que recebem o apoio. Núcleo de conhecimento e de responsabilidade refere-se ao “conjunto de saberes e responsabilidades específicos a cada profissão ou especialidade” (CAMPOS, 1997, p. 248-249). Para esses autores, a diferença entre o núcleo de conhecimento dos trabalhadores que realizam o Apoio Matricial e dos que compõem a equipe de referência tem potência para agregar saberes e contribuir para o aumento da resolubilidade dos problemas de saúde.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. Subjetividade e administração de pessoal: considerações dos modos de gerenciar o trabalho em equipes de saúde. In: MERHY, E. E.; ONOCKO, R. (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 197-228.

Lacerda e Moretti-Pires

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