O desafio da equipe que atende a vítima de trauma é o reconhecimento rápido do choque quando presente. Destaca-se que nenhum teste laboratorial IMEDIATAMENTE reconhece o estado de choque (ATLS, 2007), contudo, evidência clínica possível de reconhecimento dessa alteração circulatória é o estado de HIPOPERFUSÃO, ou seja, de perfusão orgânica e de oxigenação tecidual inadequada (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).
Embora tenha várias definições, o choque no trauma é definido pelo Colégio Americano de Cirurgiões como sendo uma “anormalidade do sistema circulatório, que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas, também se transforma em instrumento operacional para o diagnóstico e para o tratamento” (ATLS, 2007, p. 164; DUTTON, 2008).
O choque é marcado por reduções críticas na perfusão tecidual, sendo que a hipóxia tecidual compromete as atividades metabólicas, celulares e, finalmente, as funções celulares orgânicas.
A resposta inicial do sistema cardiovascular às reduções graves na perfusão tecidual é um conjunto complexo de reflexos que servem para manter o tônus vascular e o desempenho cardíaco. Há ativação do sistema simpático que eleva a frequência e a contratilidade cardíaca. Ocorre a liberação de catecolaminas, vasopressina e angiotensina, elevando o tônus vascular e arteriolar, aumentando o volume sanguíneo central, o retorno venoso e a pressão sanguínea. Concomitantemente o fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro e o coração e, à medida que o choque progride, ocorre à falência dos mecanismos compensatórios (PORTO, 2009).
Sabemos que o corpo humano é dotado de uma rede circulatória arterial e venosa, distribuída no território pulmonar e sistêmico. Para que esta rede funcione adequadamente, há a inervação vasomotora que é capaz de dilatar ou contrair estes vasos para que ocorra diminuição ou aumento da pressão sanguínea; juntamente a este sistema sensorial, existe a necessidade de um bombeamento eficiente para que o sangue circule sob pressão, ou seja, o coração. Finalmente, temos que possuir um volume adequado de sangue para ser impulsionado por todas as células do corpo (GUYTON; HALL, 2000)
Tomando por base esses componentes de respostas fisiológicas do sistema circulatório, o choque pode ser classificado nas seguintes categorias: hipovolêmico, distributivo (ou vasogênico) e o cardiogênico (PHTLS, 2007), sendo importante esta diferenciação para a coleta de dados adequada e a escolha das estratégias de tratamento.
Destacaremos essencialmente o Choque Hipovolêmico, quando ocorre a perda aguda de sangue em virtude de desidratação (perda de plasma, como por exemplo, nas vítimas de queimaduras ou de hemorragia (perda de plasma e hemácias) (PHTLS, 2007). Nesses casos de choque hipovolêmico, há desequilíbrio entre o volume de líquidos e o tamanho do continente. O choque hemorrágico é a causa mais comum de choque no paciente traumatizado (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).
Quando ocorre perda sanguínea, o coração é estimulado a aumentar o débito cardíaco, com aumento da frequência e da força das contrações, e isso só acontece com a liberação de adrenalina das glândulas suprarrenais; o sistema nervoso simpático libera a noradrenalina, que desencadeia a constrição dos vasos sanguíneos, o que resulta no fechamento dos capilares periféricos e, em nível celular, provoca mudanças no metabolismo aeróbio para anaeróbio (PHTLS, 2007).
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O choque hemorrágico pode ser dividido em quatro classes, dependendo da gravidade da hemorragia (ATLS, 2007; PHTLS, 2007), como apresentado no Quadro a seguir:
Quadro: Classificação do choque hemorrágico
Fonte: Quadro adaptado de (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).
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