Módulo 8: Linha de Cuidado Nas Urgências/Emergências Traumatológicas
Unidade 3: A avaliação Inicial (primária) à vítima de trauma

Introdução
Ventilação e Respiração
Contusão Pulmonar
Circulação com controle da Hemorragia
Avaliação Neurológica
Exposição com Controle da Hipotermia

Introdução

O desafio da equipe que atende a vítima de trauma é o reconhecimento rápido do choque quando presente. Destaca-se que nenhum teste laboratorial IMEDIATAMENTE reconhece o estado de choque (ATLS, 2007), contudo, evidência clínica possível de reconhecimento dessa alteração circulatória é o estado de HIPOPERFUSÃO, ou seja, de perfusão orgânica e de oxigenação tecidual inadequada (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).

Embora tenha várias definições, o choque no trauma é definido pelo Colégio Americano de Cirurgiões como sendo uma “anormalidade do sistema circulatório, que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas, também se transforma em instrumento operacional para o diagnóstico e para o tratamento” (ATLS, 2007, p. 164; DUTTON, 2008).

O choque é marcado por reduções críticas na perfusão tecidual, sendo que a hipóxia tecidual compromete as atividades metabólicas, celulares e, finalmente, as funções celulares orgânicas. A resposta inicial do sistema cardiovascular às reduções graves na perfusão tecidual é um conjunto complexo de reflexos que servem para manter o tônus vascular e o desempenho cardíaco. Há ativação do sistema simpático que eleva a frequência e a contratilidade cardíaca. Ocorre a liberação de catecolaminas, vasopressina e angiotensina, elevando o tônus vascular e arteriolar, aumentando o volume sanguíneo central, o retorno venoso e a pressão sanguínea. Concomitantemente o fluxo sanguíneo é direcionado para o cérebro e o coração e, à medida que o choque progride, ocorre à falência dos mecanismos compensatórios (PORTO, 2009).

Sabemos que o corpo humano é dotado de uma rede circulatória arterial e venosa, distribuída no território pulmonar e sistêmico. Para que esta rede funcione adequadamente, há a inervação vasomotora que é capaz de dilatar ou contrair estes vasos para que ocorra diminuição ou aumento da pressão sanguínea; juntamente a este sistema sensorial, existe a necessidade de um bombeamento eficiente para que o sangue circule sob pressão, ou seja, o coração. Finalmente, temos que possuir um volume adequado de sangue para ser impulsionado por todas as células do corpo (GUYTON; HALL, 2000)

Tomando por base esses componentes de respostas fisiológicas do sistema circulatório, o choque pode ser classificado nas seguintes categorias: hipovolêmico, distributivo (ou vasogênico) e o cardiogênico (PHTLS, 2007), sendo importante esta diferenciação para a coleta de dados adequada e a escolha das estratégias de tratamento.

Destacaremos essencialmente o Choque Hipovolêmico, quando ocorre a perda aguda de sangue em virtude de desidratação (perda de plasma, como por exemplo, nas vítimas de queimaduras ou de hemorragia (perda de plasma e hemácias) (PHTLS, 2007). Nesses casos de choque hipovolêmico, há desequilíbrio entre o volume de líquidos e o tamanho do continente. O choque hemorrágico é a causa mais comum de choque no paciente traumatizado (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).

Quando ocorre perda sanguínea, o coração é estimulado a aumentar o débito cardíaco, com aumento da frequência e da força das contrações, e isso só acontece com a liberação de adrenalina das glândulas suprarrenais; o sistema nervoso simpático libera a noradrenalina, que desencadeia a constrição dos vasos sanguíneos, o que resulta no fechamento dos capilares periféricos e, em nível celular, provoca mudanças no metabolismo aeróbio para anaeróbio (PHTLS, 2007).

Saiba Mais
Para complementar seu conhecimento sobre a etiologia e a fisiopatologia do choque hipovolêmico, realize a leitura da tese de doutorado de Cyrillo (2009).
Clique aqui e confira.

O choque hemorrágico pode ser dividido em quatro classes, dependendo da gravidade da hemorragia (ATLS, 2007; PHTLS, 2007), como apresentado no Quadro a seguir:

Quadro: Classificação do choque hemorrágico Fonte: Quadro adaptado de (ATLS, 2007; PHTLS, 2007).

Palavra do Profissional
Devemos sempre ficar atentos à presença desses sinais (descritos anteriormente) e a presença também de hipotensão arterial, ou seja, pressão arterial sistólica (PAS) menor que 90 mmHg, redução da PAS basal em 40mmHg ou mais, já que o tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível, corrigindo não só a hipotensão e suas manifestações, mas também seus fatores determinantes (ATLS, 2007).

Acompanhe na próxima página a continuidade deste tema!