Kinoshita (apud YASUI, 2010, p. 131) conceitua território como
uma área sobre a qual o serviço deve assumir a responsabilidade sobre as questões de saúde mental. Isso significa que uma equipe deve atuar no território de cada paciente, nos espaços e percursos que compõem as suas vidas cotidianas visando enriquecê-las.Destarte, a intervenção de saúde no território implica, para a equipe interdisciplinar, uma saída a campo “desprotegida” de uma instituição edificada, no intuito de desbravar a rotina e as surpresas da vida individual e coletiva. É a disposição de realizar busca ativa e visita domiciliar entre ruas, com riscos, e de realizar combinações com lideranças comunitárias, de mapear os espaços de prazer do usuário. É conhecer onde o usuário gosta de utilizar seu dinheiro, onde costuma ir para se sentir melhor, de maneira a instigar o profissional a sair e não perder esta perspectiva ampliada do desenvolvimento da vida.
Os trabalhadores em saúde devem ter clareza na identificação do nível de intensidade da demanda e do nível de sofrimento ou crise em que o usuário-família se encontra. Além disso, é preciso que eles pactuem em fóruns técnicos de discussão que a resolução de cada caso clínico depende de compromisso assumido na Rede de Atenção por gestores e trabalhadores. Dessa forma, necessitamos entender que cada componente e ponto da Rede de Atenção é corresponsável pelo território e que este faz parte de um contexto sanitário de diferentes complexidades.
Um território pode ser composto por espaços como residências, praças, igrejas, escolas, cinemas, teatros, bares, salões de beleza, padaria; e serviços públicos como postos de saúde, hospitais, creches, delegacias e escolas, dentre outros. A relação que o usuário faz de seu convívio com os dispositivos em seu território aponta para a construção singular de seu território existencial.
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No entanto, Yasui (2010) destaca que o próprio território sugere a produção de algo novo que implica em novas formas existenciais, individuais e coletivas. O componente do território é algo que necessita constantemente ser recriado. Essa perspectiva tem como desafios pensar e agir sobre o novo e criar novos espaços de atuação de saúde, articulando as formas de se viver com a oferta de ações e serviços.
É preciso valorizar as singularidades existentes e locais. E, como aponta Yasui (2010, p. 129), é preciso criar novas estruturas subjetivas, ou seja, “ocupar o território com a loucura”. Seria concebermos que, opostos ao manicômio, são a vida e a cidade. Assim, cabe pensar estratégias de inclusão, como, por exemplo, a luta coletiva pelo acesso ao transporte coletivo para quem vivencia o transtorno mental, necessita se deslocar por distâncias e é desprovido de renda.
Entendemos que o conceito de território é complexo e que deve ser abordado a partir de realidades locais, pois o local é permeado por diferentes culturas e contextos que manifestam a diversidade de cada pessoa envolvida no cuidado.
Concluindo nosso estudo, lembramos que é preciso transformar a vida no território ao propor a inclusão de temas de saúde mental em rádios comunitárias, jornais do bairro, exposição de artesanatos em feiras. Utilizar a arte, como a música, a dança, o cinema, a pintura e o teatro, também é uma forma de transformar a relação entre a sociedade e a loucura. O território é também um espaço de revolução existencial.