Acolhimento: escuta, vínculo e responsabilização pelo cuidado
Dentre as funções de acolhimento, estão o alívio do sintoma do sujeito por meio da escuta e a devolução do discurso do sujeito, ressignificado pelo profissional que o acolhe. Ao demonstrar sua relevância no estabelecimento do vínculo entre usuários-familiares e profissionais, o cuidado é viabilizado pelo profissional (BRASIL, 2010). Brognoli e Rodrigues (2012) afirmam que é imprescindível o estabelecimento desse vínculo para o engajamento dos participantes no processo. Os objetivos do acolhimento estão ligados tanto à possibilidade do vínculo quanto à responsabilização do(s) profissional(is) pelo vínculo que se cria.
Segundo Lobosque (2007, p. 2):
(...) acolhimento se encadeia com a oferta de um vínculo e a responsabilização por um cuidado. Abrir a porta não é apenas liberar a entrada e autorizar a permanência de cada um daqueles que chegam; trata-se de criar um lugar pelo qual se responde. Há que se delinear a direção de um tratamento, nunca a priori, e sim a partir daquilo que cada qual traz consigo. Afinal, descobrimos em cada problema a sua mais fértil possibilidade de solução, quando encontramos a maneira mais justa de formulá-lo.
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Palavra do Profissional |
A recepção e o acolhimento consideram a perspectiva da singularidade para promover o campo do cuidado. É importante que o profissional repense a sua prática para reações possíveis do cuidador ante a solução ou não do problema. A partir do momento em que podemos resolver algum sofrimento, nós nos encantamos com nossa própria capacidade de buscar uma solução para tal queixa. Porém, se não nos reconhecermos como profissionais capazes disso, podemos também nos submeter ao sofrimento e nos paralisarmos ante a situação. Entretanto, ao disponibilizarmos uma escuta que não se detenha na queixa, podemos ultrapassá-la e, ao mesmo tempo, transformá-la em uma demanda por cuidado que estimulará a implicação do sujeito com suas próprias questões. Isso significa poder traduzir e devolver a queixa reformulada em uma interrogação acerca de sintomas que mobilizem o paciente a perseguir as respostas. Por essa via é que se pode desencadear uma mudança efetiva da posição subjetiva, uma vez que um sintoma, apesar do sofrimento que produz, paradoxalmente, resulta também em um montante de satisfação.
Veja mais a respeito na animação a seguir:
Destarte, a singularidade do Acolhimento pode ser vista em três dimensões de acordo com Silva Jr. e Mascarenhas (2004): técnica, postura e reorientação do serviço, conforme veremos a seguir.
a) Técnica
A dimensão técnica do acolhimento trata da maneira de instrumentalizar e organizar os procedimentos e as ações para compreender a demanda do sujeito. Todavia, nos serviços de saúde são necessárias discussões sobre as concepções teórico-metodológicas sobre o que e como fazer o acolhimento, pois este pode expressar divergências da equipe, relacionadas às relações de poder no trabalho (SILVA JÚNIOR; MASCARENHAS, 2004).
Doravante, a relação profissional com o usuário pressupõe, para a equipe de enfermagem e as demais, conhecimento teórico, diálogo com profissionais mais experientes, autoconhecimento e engajamento político. Salientamos também que a dimensão técnica do acolhimento deve incluir o registro do atendimento realizado, o qual, por meio de uma linguagem viva, expressará a proposta de cuidado (ROCHA, 2005).
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Saiba Mais |
b) Postura
Essa dimensão do acolhimento refere-se à forma como o profissional ou a equipe recebem e se posicionam no momento em que o sujeito, o seu acompanhante ou sua família chegam ao serviço. Isso implica em uma relação de interesse mútuo, confiança e apoio. As relações intraequipes devem ser democráticas e estimular a participação, autonomia e decisão coletiva (SCHMIDT; FIGUEIREDO, 2009).
Vejamos na próxima página como devemos efetuar um atendimento.