Módulo 9: Projeto Terapêutico Singular Na Clínica Da Atenção Psicossocial
Unidade 2: Recursos terapêuticos, estratégias de intervenção e intersetorialidade

Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Acolhimento: escuta, vínculo e responsabilização pelo cuidado
Matriciamento na Atenção Psicossocial
Atenção Domiciliar e Familiar
Psicofármacos
O cuidado em situação de crise, urgência e emergência
Grupos terapêuticos
Oficinas terapêuticas
Oficinas de geração de trabalho e renda e cooperativas sociais

Ansiolíticos/hipnóticos e Antidepressivos

Conforme Almeida et al. (1996), os psicofármacos são drogas que atuam nos processos psíquicos em geral. De acordo com o seu efeito principal ou aquele que estabeleceu a sua utilidade terapêutica, tais drogas são classificadas em:

  • ansiolíticos/hipnóticos;
  • antidepressivos;
  • antipsicóticos/neurolépticos; e
  • estabilizadores do humor.
Vejamos a seguir a respeito de cada um deles.

Ansiolíticos/hipnóticos

Os grandes representantes desse grupo de substâncias são os compostos benzodiazepínicos, que surgiram a partir da década de 1960, como o clordiazepóxido e o diazepam.

Os benzodiazepínicos mais empregados na clínica são: diazepam, clordiazepóxido, lorazepam, bromazepam, clonazepam, alprazolam. Outros benzodiazepínicos que também são utilizados, incluem: nitrazepan, flurazepan, flunitrazepan e midazolan.

Vejamos a seguir as suas indicações, suas contraindicações e os seus efeitos colaterais.

Antidepressivos

Os antidepressivos são representados por um vasto número de compostos. Dentre eles, destacam-se os grupos de substâncias:

  • Tricíclicos - imipramina, amitriptilina, clomipramina, nortriptilina, maprotilina, doxepina
  • Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) - fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina
  • Inibidores da enzima monoamino-oxidase (IMAO) - fenelzina, tranilcipromina, moclobemida.
Além dessas, outras substâncias com diferentes mecanismos de ação são utilizadas no tratamento da depressão, bem como em outros transtornos mentais: amineptina, bupropriona, milnaciprano, mirtazapina, nefazodona, reboxetina, tianeptina, trazodona, venlafaxina.

Conforme Cordioli (2005), o que determina a diferença entre os vários tipos desses medicamentos é o seu perfil de efeitos colaterais. Os primeiros antidepressivos lançados no mercado, no final da década de 1950, pertencem ao grupo dos tricíclicos e se caracterizam por provocar efeitos colaterais geralmente mais incômodos. Os antidepressivos mais recentes são mais seletivos, apresentam menos efeitos colaterais e, consequentemente, melhor tolerância.

Vejamos agora as suas indicações, suas contraindicações e os seus efeitos colaterais.

Antidepressivos

Indicações (1)
São utilizados para o tratamento de transtornos depressivos, especialmente em depressões de intensidade moderada ou grave, nos quais a apresentação clínica e a história pregressa sugerem a participação de fatores biológicos, muito embora estejam sendo utilizados cada vez mais em outros transtornos mentais.

Os compostos tricíclicos são as drogas de escolha em depressões graves e em usuários hospitalizados. Além disso, são efetivos no transtorno do pânico, no transtorno de ansiedade generalizada, na dor crônica, no déficit de atenção com hiperatividade e no transtorno obsessivo-compulsivo.
Indicações (2)
Os ISRS, além de serem utilizados na depressão unipolar, revelaram-se eficazes no transtorno obsessivo-compulsivo, no transtorno do pânico, na distimia, em episódios depressivos do transtorno bipolar, na bulimia nervosa, na fobia social, na ansiedade generalizada e no stress pós-traumático.

Já os IMAO são recomendados para o tratamento de depressões atípicas, transtornos ansiosos (pânico e fobias) e para pessoas resistentes ao tratamento com os demais antidepressivos.
Indicações (3)
Dos demais antidepressivos, de acordo com Cordioli (2005), vale citar que:
  • a bupropriona é utilizada no tratamento do tabagismo;
  • a nefazodona e a mirtazapina são preferidas em quadros depressivos acompanhados de ansiedade; e
  • a venlafaxina vem sendo largamente utilizada no tratamento da ansiedade generalizada.
Contraindicações
Os compostos tricíclicos são contraindicados em pessoas com: problemas cardíacos (bloqueio de ramo, insuficiência cardíaca) ou após o infarto recente do miocárdio (três a quatro semanas); hipertrofia de próstata, constipação intestinal grave e glaucoma de ângulo estreito. Devem ser evitados ainda em idosos pelo risco de hipotensão postural e consequentemente de quedas; e em pessoas com risco de suicídio, pois são letais em overdose. São também contraindicados em pessoas com sobrepeso ou obesos, pois provocam ganho de peso.

Os ISRS são contraindicados em usuários com hipersensibilidade a estas drogas ou com problemas gastrintestinais como gastrite ou refluxo gastroesofágico. Pessoas que utilizam múltiplas drogas e com insuficiência hepática devem evitar a fluoxetina, pois ela apresenta interações medicamentosas bastante complexas. Devem ser evitados ainda em usuários com disfunções sexuais não decorrentes de depressão, pois podem agravar tais quadros (CORDIOLI, 2005).
Efeitos colaterais
Os efeitos mais comuns dos tricíclicos são: boca seca, constipação intestinal, retenção urinária, visão borrada, taquicardia, queda de pressão, tonturas, sudorese, sedação, ganho de peso, tremores.

Já, os efeitos mais comuns dos ISRS, são: ansiedade, desconforto gástrico (náuseas, dor epigástrica, vômitos), cefaleia, diminuição do apetite, disfunção sexual, inquietude, insônia, nervosismo, tremores.

O principal efeito colateral dos IMAO é a hipotensão postural, mas podem ocorrer outros efeitos adversos, como: tontura, cefaleia, inibição da ejaculação, fraqueza, fadiga, dificuldade para urinar, boca seca, visão embaçada, obstipação, rash cutâneo, anorexia, parestesias e edema dos pés (CORDIOLI, 2005).

Antipsicóticos/neurolépticos

Os antipsicóticos começaram a ser utilizados na década de 1950, a partir da descoberta de que a clorpromazina diminuía a intensidade dos sintomas psicóticos. A partir dela, outros agentes com ação antipsicótica foram empregados.

Os antipsicóticos são classificados em típicos (clássicos ou convencionais) e atípicos. Os antipsicóticos típicos ou de primeira geração, são anteriores aos atípicos, de segunda ou de nova geração. As diferentes gerações de antipsicóticos não se distinguem em termos de eficácia clínica, mas sim em termos do perfil de efeitos colaterais.

Os antipsicóticos típicos são menos seletivos nos seus mecanismos de ação. Os antipsicóticos de segunda geração são mais recentes e produzem menos efeitos colaterais motores. Entretanto, alguns antipsicóticos atípicos possuem efeitos colaterais metabólicos importantes.

  • Alguns antipsicóticos de primeira geração: haloperidol, flufenazina, pimozida, trifluoperazina, clorpromazina, levomepromazina.
  • Alguns antipsicóticos de segunda geração: clozapina, risperidona, olanzapina, quetiapina, aripiprazol (CORDIOLI, 2005).

Palavra do Profissional
Os mecanismos de ação dos antipsicóticos associam-se principalmente ao bloqueio de receptores D2 em diversas vias dopaminérgicas. Os efeitos propriamente antipsicóticos relacionam-se ao bloqueio D2 dopaminérgico nas vias mesolímbicas. Os antipsicóticos atípicos apresentam maior afinidade por receptores D2 desta via, enquanto os antipsicóticos típicos são menos seletivos, bloqueando também receptores D2 das vias nigroestriatais, relacionadas ao sistema extrapiramidal, que controla os movimentos involuntários. Por isso, os antipsicóticos típicos apresentam mais efeitos motores.

Na próxima página, veremos as demais características e aplicações dos antipsicóticos e neurolépticos.