Módulo 9: Projeto Terapêutico Singular Na Clínica Da Atenção Psicossocial
Unidade 2: Recursos terapêuticos, estratégias de intervenção e intersetorialidade

Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Acolhimento: escuta, vínculo e responsabilização pelo cuidado
Matriciamento na Atenção Psicossocial
Atenção Domiciliar e Familiar
Psicofármacos
O cuidado em situação de crise, urgência e emergência
Grupos terapêuticos
Oficinas terapêuticas
Oficinas de geração de trabalho e renda e cooperativas sociais

O cuidado em situação de crise, urgência e emergência

Del Acqua e Mezzina (1991) alertam também para o fato de que qualquer definição de crise deve levar em conta a (1) organização dos dispositivos de atendimento existentes em determinado lugar e (2) o momento histórico particular. É com base nessas duas dimensões que os problemas emocionais, psicológicos, relacionais e sociais, enfim, os acontecimentos da vida, podem ser considerados uma crise.

As situações de urgência caracterizam-se por uma invalidação dos saberes e dos esquemas de solução pré-estabelecidos, tornando-se necessário “inventar” os caminhos. Essas são situações em que ninguém sabe o que fazer exatamente. Por isso, uma urgência será considerada como tal, dependendo das concepções das pessoas envolvidas nela e dos dispositivos para seu acolhimento.

Saraceno et al. (1997) procura relacionar os diferentes elementos que vão configurar as situações de urgência em saúde mental e que precisam ser considerados na organização do atendimento e do cuidado continuado ao sujeito em crise.

Esse autor considera que uma situação de urgência é marcada pelo somatório de muitos problemas e também de muitas pessoas que estão envolvidas. Em geral, tais situações revelam as dificuldades entre elas. Uma conduta necessária é a mediação de tais conflitos, via de regra, emocionalmente intensos, para produzir um acordo mínimo. Para tanto, é preciso definir claramente:

  • os problemas vivenciados (sintomatologia apresentada, conflitos interpessoais, problemas sociais etc.);
  • os papéis desempenhados na produção da situação;
  • os diferentes pedidos e as demandas que surgem; e
  • as ações a serem desempenhadas.
As tarefas da equipe profissional são organizadas segundo uma estrutura básica, que consiste (SARACENO et al. 1997): na coleta das informações junto à própria pessoa em crise, aos familiares, vizinhos ou quem quer que esteja acompanhando a situação;
  • em produzir uma avaliação do caso e do entrelaçamento dos problemas apresentados;
  • em estabelecer um diagnóstico situacional a partir dessas informações;
  • em avaliar os recursos existentes, tanto os da equipe ou serviço quanto da rede social e familiar; e
  • em estabelecer as ações com base nesses critérios.
Saraceno et al. (1997) também aponta para os diferentes aspectos que os profissionais devem considerar diante da urgência. Veja a seguir quais são eles.

No quadro apresentado a seguir (SARACENO et al. 1997), apresentamos algumas atitudes básicas que o profissional pode assumir diante de uma situação de urgência. Nunca é demais relembrar, no entanto, que não se trata de indicações precisas e inflexíveis, já que o imprevisível faz parte das situações de urgência. Entretanto, fornecem algumas sugestões para o cuidado adequado e devem ser eleitas a partir da consideração dos elementos apontados anteriormente.

Quadro: Atitudes básicas dos profissionais diante de situações de urgência. Fonte: SARACENO et al. (1997, p. 59-63).

Por fim, neste estudo procuramos apontar os principais elementos constituintes da crise que necessitam ser observados para que a intervenção não seja balizada unicamente pela pressa e pela angústia dos envolvidos. Pudemos constatar também que a atenção e o cuidado nas situações de crise exigem dos profissionais encarregados dela um montante considerável de empenho, sobretudo para que a experiência da crise possa tornar-se produtiva.