A obstrução do fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, causada primariamente pelo tabagismo. Embora a DPOC comprometa os pulmões, também produz consequências sistêmicas significativas, tais como a depleção nutricional, a disfunção dos músculos esqueléticos, que contribui para a intolerância ao exercício, e as manifestações relacionadas a comorbidades comumente observadas nestes pacientes. Essas manifestações têm sido relacionadas à sobrevida e ao estado geral de saúde dos pacientes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2004).
O processo inflamatório crônico pode produzir alterações dos brônquios (bronquite crônica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima pulmonar (enfisema pulmonar). A predominância destas alterações é variável em cada indivíduo, tendo relação com os sintomas apresentados.
Causas
• A identificação dos fatores de risco representa ponto importante para o desenvolvimento de estratégias para a prevenção a tratamento da DPOC. Dentre os principais fatores destacam-se:
• Tabagismo: responsável por 80 a 90% das causas determináveis da DPOC.
• Poluição domiciliar (fumaça de lenha, querosene).
• Exposição ocupacional a poeiras e produtos químicos ocupacionais.
• Poluição atmosférica. A poluição aérea pela queima de combustíveis fósseis, principalmente pela emissão de veículos a motor.
• Infecções respiratórias recorrentes na infância.
• Suscetibilidade individual.
• Desnutrição na infância.
• Deficiências genéticas (responsáveis por menos de 1% dos casos), como alfa1 antitripsina.
Fisiopatologia
Na DPOC, ocorre uma inflamação crônica nas vias aéreas centrais e periféricas, além dos alvéolos e dos vasos pulmonares causando dispneia, aumento de secreção brônquica e hipertensão pulmonar. No enfisema, a inflamação ocasiona comprometimento da elastina do alvéolo e por consequência perda de sua integridade. Na bronquite crônica, a inflamação desencadeia disfunção ciliar, dilatação dos bronquíolos e acúmulo de secreções. Ocorre, então, obstrução brônquica, aumento da resistência das vias aéreas e limitação do fluxo expiratório, ocasionando hiperinsuflação pulmonar.
Em ambas as situações, as mudanças são progressivas e usualmente não reversíveis, ao contrário da asma, que geralmente é reversível.
Sinais e sintomas
Os principais sintomas incluem dispneia aos esforços que pode progredir para dispneia de decúbito (ortopneia) e dispneia paroxística noturna, tosse produtiva matinal (pois há um acúmulo das secreções/muco produzidos durante a noite na árvore traqueobrônquica), hemoptise, expectoração.
Alguns autores, para serem mais didáticos dividem os sintomas de DPOC em aqueles que são vistos mais frequentemente na bronquite crônica, daqueles que são prevalentes no enfisema pulmonar. Assim, ao exame físico podem ser encontrados sinais característicos de dois estereótipos clássicos: os sopradores róseos e os inchados azuis.
Mais uma vez é bom lembrar que estamos falando em extremos de um espectro de manifestações clínicas que podem ocorrer na DPOC. A maioria dos pacientes apresenta um pouco de cada um dos sintomas a seguir:
Sopradores Róseos Enfisema |
Inchados azuis Bronquite |
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Nos sopradores róseos há pletora e tórax em tonel, dispneia do tipo expiratória, sem cor pulmonale e sem hipoxemia; na ausculta pulmonar há diminuição dos murmúrios vesiculares e ausência de ruídos adventícios. Gordo, brevilíneo. Fácies “dorminhoco”. Dispneia discreta. Não utiliza ponto de ancoragem. Muita tosse com expectoração. |
Nos inchados azuis há cianose, sinais de cor pulmonale (turgência jugular patológica, ascite, edema de membros inferiores); na ausculta, os murmúrios vesiculares também estão diminuídos, mas há presença de ruídos adventícios (roncos, sibilos e estertores - devido à presença de quantidades maiores de muco). Magro, longilíneo. Fácies “angustiada”. Dispneia intensa. |
Edema e ICC ↑CO2, ↓O2, ↑HCO3, ↑volume globular. Pouca obstrução. |
Utiliza ponto de ancoragem. Pouca tosse com expectoração. Edema e ICC raros. Gasometria normal. Obstrução grave |
Fonte: http://pulmaosarss.files.wordpress.com/2010/10/dpoc-netter.jpg
Intervenções de enfermagem
• Verificar o nível de consciência.
• Providenciar desobstrução de vias aéreas
• Verificar respiração.
• Administrar oxigênio suplementar sob máscara dez litros por minuto observando cuidados com depressão respiratória.
• Assistir respiração com BVM, se indicado.
• Manter saturação > 90%.
• Monitorizar o paciente com cardioscópio, monitor de pressão arterial não invasivo, capnógrafo e oxímetro de pulso.
• Obter acesso venoso periférico com cateter calibroso.
• Obter sangue para: hemograma, gasometria arterial, função renal, eletrólitos e coagulação.
• Providenciar ECG de 12 derivações.
• Tratar os fatores de descompensação.
• Radiografar tórax em PA e perfil, se possível.
• Aplicar CPAP sob máscara em pacientes colaborativos.
• Intubar imediatamente pacientes com nível de consciência deprimido (Glasgow ≤ 8), instabilidade hemodinâmica ou fadiga extrema.
• Empregar broncodilatadores por via inalatória para reverter broncoespasmo (principalmente os anticolinérgicos). Evitar a aminofilina devido a seu alto potencial de toxicidade.
• Considerar o emprego de corticosteróides IV especialmente em pacientes com broncoespasmo intenso (20 a 40 mg de metilprednisolona 8 em 8 horas).
• Iniciar ventilação assistida, caso necessário.
• Manter continuamente monitorizados o ritmo cardíaco, oximetria e PNI.
Saiba Mais |
Neste tópico aprendemos sobre esta que é uma enfermidade respiratória prevenível e tratável, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), caracterizada pela presença de obstrução crônica do fluxo aéreo. Vimos que o seu processo inflamatório crônico pode produzir alterações dos brônquios, bronquíolos e parênquima pulmonar. Além disso, abordamos os principais sinais e sintomas que acometem os pacientes com DPOC e quais as devidas intervenções de enfermagem cabíveis no seu caso.