Módulo 6: Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências Clínicas Respiratórias e Metabólicas
Unidade 1: Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Avaliação clínica do enfermeiro: anamnese e exame físico
Avaliação clínica do enfermeiro: exame laboratorial e por imagem
Insuficiência respiratória aguda
Asma
Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
Pneumonia
Distúrbios acidobásicos
Grupos farmacológicos
Técnicas e procedimentos de assistência ventilatória
Intubação e Ventilação
Alarmes

Inspeção

A dispneia também possui algumas denominações especiais (MARTINEZ, PADUA, TERRA FILHO, 2004):

• Platipneia é o nome dado à sensação de dispneia, que surge ou se agrava com a adoção da posição ortostática, particularmente em pé. Classicamente, esse fenômeno ocorre em pacientes com quadros de pericardite. Também pode estar presente na hipovolemia.

• Trepopneia é a sensação de dispneia, que surge ou piora em uma posição lateral, e desaparece ou melhora com o decúbito lateral oposto. É uma queixa não específica, que pode surgir em qualquer doença, comprometendo um pulmão mais intensamente do que o outro. Pode estar presente no derrame pleural unilateral ou paralisia diafragmática unilateral.

As alterações no ritmo podem também indicar distúrbios subjacentes, os quais veremos na explicação a seguir.

Respiração de Kussmaul
Um padrão respiratório que se caracteriza por inspirações profundas seguidas de um período de apneia e uma expiração rápida e breve, acompanhado por outro período de apneia. Resulta da estimulação do centro respiratório cerebral; ocorre nos casos de acidose diabética.
Respiração de Cheyne-Stokes
O padrão respiratório se apresenta como período de apneia seguido por aumento progressivo da amplitude respiratória, até atingir um máximo, quando então diminui progressivamente, entrando em um novo período de apneia. Esse ritmo respiratório ocorre mais comumente em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva grave, podendo também estar presente em vigência de lesões do sistema nervoso central, hipertensão intracraniana, intoxicação por morfina.
Respiração de Biot
É caracterizada por irregularidade imprevisível. Períodos de apneia irregulares seguidos por períodos respiratórios com frequência e amplitude variáveis, sem qualquer padrão de sucessão entre eles. Ocorre em pacientes com hipertensão intracraniana e lesões do sistema nervoso central.

A frequência, o ritmo e a qualidade dos movimentos ventilatórios são pontos-chave da função respiratória, podendo também ser indicadores de disfunção neurológica.

Com relação à qualidade da respiração, é importante observar que, normalmente, o movimento torácico é simétrico. Falência da parede torácica em elevar adequadamente pode indicar fibrose, colapso de lobos superiores ou obstrução brônquica. Dor torácica súbita e aguda, como encontrada no pneumotórax, pode inibir o paciente a realizar respirações profundas, resultando em hipoventilação alveolar.

Quanto ao grau de esforço ventilatório, o uso de musculatura acessória (tais como dos músculos esternocleidomastoideo, escaleno e trapézio) pode indicar dificuldade ventilatória. O paciente também pode apresentar ortopneia. Pacientes com dificuldade expiratória podem ter anormalidades de retração pulmonar e/ou resistência de vias aéreas, em condições como enfisema, edema pulmonar ou asma. Aumento do esforço inspiratório pode indicar obstrução de vias aéreas superiores por corpo estranho ou anafilaxia, por exemplo. É importante observar a influência da severidade da dificuldade respiratória em atividades comuns, como caminhar ou falar. Outros sintomas físicos incluem a respiração com lábios fechados na expiração, em pacientes que tentam forçar a saída do ar de alvéolos hiperdistendidos. Batimentos de asa de nariz pode indicar dificuldade respiratória em adultos, embora seja mais comum em crianças.

Se a expansão torácica é menor do que o normal (3 a 6 cm), observe se há evidência de que o paciente está usando músculos acessórios quando respira, incluindo elevação dos ombros, retração dos músculos intercostais e uso dos músculos escalenos e esternocleidomastóideos.

Cor da pele


A cianose pode ocorrer quando há uma grande quantidade de hemoglobina não saturada, e pode ser detectada quando a saturação de oxigênio no sangue arterial cai abaixo de 85%. A cianose geralmente é considerada um sinal tardio da disfunção respiratória, entretanto é sujeita a uma variação considerável. A cianose é de difícil avaliação sob luz artificial e melhor identificada nos lábios e na língua. Há dois tipos de cianose.

A aparência clínica da cianose deve sempre ser considerada cuidadosamente, já que sua ausência ou presença geralmente é determinada de modo subjetivo. Considere que as impressões podem ser influenciadas por fatores como elasticidade e cor da pele, iluminação ambiente e estado do leito capilar, que podem, por vezes, sugerir uma aparência cianótica. Se há sugestão de cianose, correlacione-a a outras alterações clínicas.

A cianose periférica, que geralmente indica má circulação, é observada na pele e leito ungueal e melhor identificada ao redor dos lábios, lóbulo da orelha e ponta dos dedos.

Já a cianose central, que indica problemas circulatórios ou ventilatórios, é indicada por uma cor azulada na língua e lábios. Na ausência de cianose central, a cianose periférica indica problemas circulatórios em vez de distúrbios respiratórios.

Palavra de Profissional
Deve-se ter uma atenção especial ao avaliar a cor da pele em pacientes de pele com cor escura, pois as mudanças na cor da pele, particularmente cianose, não são facilmente detectáveis. É importante notar que pacientes anêmicos podem ter hemoglobina insuficiente para produzir a cor azulada das membranas mucosas que caracteriza a cianose.

 

 

 

Outro importante parâmetro a ser verificado na inspeção é a presença de deformidades.

O boqueteamento digital ocorre como resultado de uma condição crônica formada durante um longo período de tempo. Isso pode ser indicativo de hipoxemia originada por doença pulmonar crônica ou cardiovascular.

Deformidades do tórax anterior podem afetar a qualidade da respiração. O diâmetro do tórax anterior e posterior deve ser comparado com o diâmetro de um lado a outro. Se o diâmetro anteroposterior é aproximadamente o dobro da medida do diâmetro de um lado a outro, isso indica o formato de “tórax em barril” causado pelo enfisema. Deformidades espinhais, tais como cifose, também influenciam a expansão pulmonar.

Na próxima página concluiremos nosso estudo sobre a inspeção e daremos continuidade às demais técnicas propedêuticas, a palpação, a percussão e a ausculta.